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Árvores devem ser prioridade como água e energia nas cidades, diz botânico

26/02/2025

Fonte: FSP - https://www1.folha.uol.com.br/



Árvores devem ser prioridade como água e energia nas cidades, diz botânico
Criador de técnica de plantio de florestas urbanas defende substituição de vagas de carro por corredores verdes e jardins para regular temperatura e prevenir enchentes

Victória Pacheco

26/01/2025

Cidades brasileiras têm ignorado uma solução simples e econômica para lidar com a crise climática: a arborização. É o que constata o botânico e paisagista Ricardo Cardim, que há mais de 15 anos trabalha com restauração de biodiversidade na capital paulista.

"Precisamos de árvores altas, que formem corredores verdes, com túneis de sombra. Para saber se uma rua é eficiente em termos de adaptabilidade climática, basta ver se ela tem árvores sombreando calçada e asfalto", afirma.

"Com isso, conseguimos reduzir a temperatura, aumentar a umidade do ar e diminuir o risco de enchentes, porque as copas retêm água da chuva, que será levada lentamente para o lençol freático."

Hoje, menos de 7% das áreas urbanas do país são cobertas por vegetação, conforme levantamento do MapBiomas, rede ambiental composta por universidades, ONGs e empresas de tecnologia.

Além disso, as árvores mais comuns nas cidades brasileiras são de origem estrangeira e pequeno porte -como as asiáticas resedá e a árvore-da-china- e não trazem benefícios ambientais, de acordo com Cardim. Ele estima que 90% da vegetação nas vias de São Paulo seja não nativa.

"Há um excesso de plantas invasoras, que geram uma série de problemas ecológicos, como a degradação dos remanescentes nativos e falta de alimento para a fauna tradicional."

Outra desvantagem é que essas espécies não criam túneis de sombra. "Uma árvore anã é apenas um enfeite na cidade. Em um dia quente, ela não ajuda em nada", critica o paisagista. Segundo ele, espécies como cabreúva e jatobá, que podem atingir mais de 30 metros, são ideais.

Solução capaz de amenizar o calor é a substituição de vagas de estacionamento nas ruas por vegetação. "Isso já vem sendo feito em países europeus e é extremamente simples. Basta reorganizar as vagas para criar nichos de árvores e jardins de chuva, mas mantendo a maioria."

Paris abraçou a ideia no novo plano climático que aprovou no ano passado, comprometendo-se a substituir 60 mil vagas por árvores até 2030 e recuperar 100 hectares para uso de pedestres e criação de áreas verdes.

No entanto, é preciso ir além do plantio, garantindo manutenção eficiente. Essa é uma falha em São Paulo: estudo de pesquisadores brasileiros publicado na revista científica "Trees: Structure and Function" mostrou que a queda de árvores na capital ocorre tanto no período chuvoso quanto no seco.

Observa-se uma combinação entre fatores climáticos, como chuvas e ventos fortes, e manejo inadequado.

Apenas entre 2013 e 2016, cerca de 7.000 árvores de rua caíram -média de seis por dia-, resultando na perda de 1% da arborização viária da cidade (em calçadas e canteiros centrais).

Por que árvores caem e o brasileiro tem tanto medo delas? Porque não há manutenção periódica, nem equipes dedicadas a remover cimento das raízes, combater pragas e fazer podas preventivas. Elas são plantadas e abandonadas.

Ricardo Cardim
mestre em botânica pela USP e paisagista

Com podas preventivas, árvores grandes podem coexistir com a fiação. O Manual Técnico de Arborização Urbana do município prevê "podas durante a formação [das árvores de maior porte] visando à não interferência com a rede elétrica aérea" e recomenda "o plantio fora do alinhamento da rede sempre que a largura do passeio permitir".

Além da criação de equipes de manutenção em parceria com universidades e cientistas, o mestre em botânica pela USP defende que o poder público amplie o plantio em regiões periféricas, menos arborizadas.

"Bairros da periferia costumam ter grandes avenidas comerciais, com espaço para árvores entre lojas e vagas de carro. Isso tornaria o deslocamento da população mais saudável. Árvores precisam ter a mesma prioridade que água, esgoto e eletricidade, porque são serviço essencial diante das mudanças climáticas."

Áreas urbanas pobres são impactadas desproporcionalmente pelos extremos do clima. Estudo da Universidade Presbiteriana Mackenzie revelou que, durante ondas de calor, a sensação térmica em Paraisópolis é até 10oC superior a do Morumbi, ambos na zona oeste de São Paulo.

O botânico recomenda a criação de leis que incentivem o reflorestamento urbano, causa à qual se dedicou com a Floresta de Bolso, técnica de plantio adensado de espécies nativas em áreas urbanas degradadas ou zonas rurais invadidas por espécies exóticas.

Entre 2016 e 2019, a iniciativa mobilizou mutirões voluntários para plantar florestas em espaços públicos da capital, incluindo uma de 600 m² próxima ao Largo da Batata, em Pinheiros, que alcançou 8 metros de altura em 3 anos.

Cardim busca disseminar o conhecimento ambiental e científico por meio das redes sociais e livros como "Remanescentes da Mata Atlântica: as grandes árvores da floresta original e seus vestígios", finalista do Prêmio Jabuti na categoria Ciências, e "Paisagismo sustentável para o Brasil: Integrando natureza e humanidade no século 21".

Desde 2010, ele também faz parte da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais com a Associação dos Amigos das Árvores de São Paulo, entidade que fundou para preservar e monitorar as áreas verdes da capital.

No Instagram, publica vídeos didáticos para seus 127 mil seguidores, explicando, por exemplo, por que arbustos não devem ser plantados em calçadas, os impactos da substituição de jardins por pedras decorativas e as consequências da canalização de rios.

A internet é uma de suas principais plataformas para alertar sobre a necessidade de compromisso político com a causa ambiental. "Temos universidades excepcionais no Brasil, e a ciência já aponta com clareza o que devemos fazer. O que falta é vontade política", afirma.

https://www1.folha.uol.com.br/folha-social-mais/2025/02/arvores-devem-ser-prioridade-como-agua-e-energia-nas-cidades-diz-botanico.shtml
 

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