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Distrito Sanitário Especial Indígena Ceará, em parceria com a Fiocruz, lança projeto para mapeamento participativo das medicinas indígenas no estado
03/03/2025
Autor: Geovanni Carvalho
Fonte: Brasil de Fato - https://www.brasildefato.com.br/
Distrito Sanitário Especial Indígena Ceará, em parceria com a Fiocruz, lança projeto para mapeamento participativo das medicinas indígenas no estado
A iniciativa envolverá todas às 15 etnias, distribuídas em 106 aldeias, em 17 municípios cearenses
03.mar.2025 às 16h27 Juazeiro do Norte (CE)
Geovanni Carvalho
Desempenhando papel fundamental na saúde e no bem-estar dos povos originários, a medicina indígena é praticada há séculos por pajés, raizeiros, parteiras, rezadeiras, dentre outros detentores que possuem um conhecimento profundo sobre ervas medicinais, rituais de cura e tecnologias de cuidado.
Assim, com a perspectiva de promover a valorização desses sujeitos detentores de conhecimentos ancestrais de cura, o Distrito Sanitário Especial Indígena Ceará (DSEI-CE) da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) lançou em parceira com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por meio do Programa Inova e via desenvolvimento de ações para o aprimoramento do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS), o edital do projeto Tecnologias de cuidados indígenas: mapeamento participativo dos especialistas em medicinais indígenas do Estado do Ceará.
Juliana Alves, cacika Cacika do povo Jenipapo-Kanindé e da Secretaria dos Povos Indígenas do Ceará (Sepin), defende que a valorização dos conhecimentos tradicionais indígenas é fundamental para a construção de políticas de saúde mais inclusivas e eficazes. "Este edital representa um passo importante para reconhecer e fortalecer os especialistas indígenas em medicinas tradicionais, garantindo que seus saberes sejam respeitados e integrados às práticas de cuidado", declara. A secretária ressalta ainda que o edital possibilita a documentação e o compartilhamento de conhecimentos e saberes indígenas, contribuindo para a autonomia dos povos indígenas e a melhoria da saúde indígena no Ceará.
O agente indígena de saneamento básico e pesquisador da medicina tradicional e cultura alimentar indígena, Samuel Tremembé, indígena do povo Tremembé da Barra do Mundaú, analisa que o edital vem para fortalecer o que tem sido construído cotidianamente com as famílias indígenas, para garantir a existência e a valorização dos saberes ancestrais entre os povos, repassado de geração em geração por meio de palestras e rodas de conversa. "É também um trabalho que vem sendo feito dentro da escola, dentro da saúde, com os praticantes da medicina tradicional através dos cuidadores, rezadores, curandeiros. Esse trabalho do pesquisador é fundamental para a valorização dos cuidadores da medicina tradicional, frente ao mapeamento desses sujeitos", relata.
Buscando preencher uma lacuna histórica no registro e documentação das medicinas indígenas, criando um banco de dados acessível e dinâmico que servirá como referência para pesquisadores, gestores de saúde e lideranças indígenas, o projeto vai envolver todas as 15 etnias indígenas do Ceará, distribuídas em 106 aldeias de 17 municípios diferentes, atendidos pelos 10 pólos-base do DSEI-CE, sendo eles: Aratuba, Aquiraz, Anacé, Crateús, Itarema, Maracanaú, Monsenhor Tabosa, Potyrõ Tapeba, Poranga e São Benedito. O projeto deve mapear especialistas indígenas e suas práticas de cura, promovendo sua valorização e reconhecimento dentro do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SASI-SUS).
O coordenador indígena do projeto, Edivan Tremembé, destaca a relevância dessa abordagem e afirma que "a medicina indígena é parte essencial da nossa identidade e saúde coletiva". O coordenador aponta ainda que a ausência de reconhecimento e valorização desses saberes representam um grande risco ao esquecimento. "Este projeto busca garantir que os especialistas indígenas sejam reconhecidos como agentes de saúde, fortalecendo nossa autonomia e nossa cultura", informa.
Mapeamento participativo
O mapeamento tem como produto final a elaboração de uma plataforma online colaborativa destinada ao registro e compartilhamento de informações da pesquisa de campo, permitindo localizar detentores de saberes, mapeamento de práticas tradicionais e criação de cartografia da riqueza cultural e terapêutica presente nas etnias do Estado do Ceará. Além disso, o projeto deve ainda produzir imagens e depoimentos sobre a importância e a diversidade das medicinas indígenas no Ceará, sensibilizando a sociedade e os gestores públicos para a relevância dessas práticas ancestrais.
Reforçando o compromisso com o protagonismo e a participação ativa dos povos indígenas, o projeto vai selecionar dez pesquisadores indígenas que atuarão no levantamento de informações nos territórios. A formação dos pesquisadores incluirá oficinas sobre técnicas de mapeamento, registro audiovisual e sistematização dos dados da pesquisa, permitindo que os participantes desempenhem um papel ativo na pesquisa e se tornem multiplicadores desses conhecimentos dentro de suas comunidades.
Em entrevista para o BdF Ceará, Samuel Tremembé revela um dos trabalhos com medicina indígena desenvolvido pelo povo da Barra do Mundaú, onde envolve saúde, educação, juventude, no qual é pautado a valorização dos saberes ancestrais dentro do território. "Nós fazemos a feira da medicina tradicional, elaboramos rodas de conversas com cuidadores, palestras dentro das escolas, momentos de fortalecimento de nossas tradições, e também a distribuição de mudas medicinais nativas", conta. De acordo com o agente, poucas pessoas do território dominam a medicina tradicional, sendo esse o principal motivo pelo qual se organizam para construção de eventos voltados exclusivamente para a medicina indígena, buscando a formação de novos sujeitos e a preservação da ancestralidade.
O líder indígena, Paulo Anacé, da Grande Aldeia Kauype do povo Anacé, declara que o edital cumpre um papel fundamental para a continuidade da ancestralidade, história e espiritualidade, uma vez que fortalece a presença do povo indígena, mantendo viva a tradição do cuidado através da mãe natureza. A liderança aponta ainda que o edital pode contribuir para o desenvolvimento de novas pesquisas na área medicinal indígena através das plantas e, consequentemente, na proteção do meio ambiente, e nas diversas formas de preparo e uso dos bens naturais para a produção de chás, garrafadas, infusões, lambedores, banhos, rezas entre outros. "Nossa medicina ou nosso curar, vem através de nossos troncos velhos, nosso pajé e nossas benzedeiras, e acontece por meio do uso de nossas ervas que vem de nossas matas, nossos terreiros e nossas hortas medicinais existentes em todo território", encerra.
Para participar do processo seletivo, os interessados deverão se inscrever através do preenchimento e envio do anexo um para o email mapmedicinasindigenasce@gmail.com, juntamente dos documentos que comprovem ser indígena pertencente a povos atendidos pelos pólos-base já mencionados anteriormente, ter nível superior completo ou estar cursando uma graduação, comprovar conhecimento sobre as medicinas indígenas, residir em território indígena, demonstrar habilidade de comunicação e articulação comunitária, além de ter disponibilidade para participar de encontros presenciais e virtuais relacionados ao projeto. A seleção de pesquisadores é dividida em duas etapas, sendo elas a fase de análise documental e curricular (eliminatório) e entrevista individual (classificatório).
O pesquisador técnico em gestão de saúde indígena do DSEI-CE, João Paulo Vieira, assegura que o projeto representa um avanço significativo para o fortalecimento das medicinas indígenas e para a formulação de políticas públicas mais inclusivas. De acordo com o pesquisador entre os principais resultados esperados no desenvolvimento do projeto estão o mapeamento participativo dos especialistas indígenas e suas tecnologias; criação de um inventário; construção de plataforma digital para armazenamento em nuvem sobre medicinas indígenas e especialidades nos territórios; formação e capacitação de pesquisadores indígenas.
Por fim, o pesquisador descreve o papel fundamental que o DSEI-CE desempenha na construção de políticas de saúde para indígenas, destacando que o órgão promove uma série de ações práticas sanitárias e desenvolve atividades técnicas, visando medidas racionalizadas e qualificadas de atenção à saúde.
Para realização das atividades os pesquisadores bolsistas receberão durante o período de seis meses uma bolsa no valor de R$ 1 mil reais. E para os bolsistas que executarem o projeto em pólos-base que contemplem mais de um município, o pesquisador indígena receberá uma ajuda de custo adicional para o deslocamento nos respectivos territórios. O resultado oficial do processo de seleção será divulgado em 31 de março de 2025.
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Edição: Lívio Pereira
https://www.brasildefato.com.br/2025/03/03/distrito-sanitario-especial-indigena-ceara-em-parceria-com-a-fiocruz-lanca-projeto-para-mapeamento-participativo-das-medicinas-indigenas-no-estado/
A iniciativa envolverá todas às 15 etnias, distribuídas em 106 aldeias, em 17 municípios cearenses
03.mar.2025 às 16h27 Juazeiro do Norte (CE)
Geovanni Carvalho
Desempenhando papel fundamental na saúde e no bem-estar dos povos originários, a medicina indígena é praticada há séculos por pajés, raizeiros, parteiras, rezadeiras, dentre outros detentores que possuem um conhecimento profundo sobre ervas medicinais, rituais de cura e tecnologias de cuidado.
Assim, com a perspectiva de promover a valorização desses sujeitos detentores de conhecimentos ancestrais de cura, o Distrito Sanitário Especial Indígena Ceará (DSEI-CE) da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) lançou em parceira com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por meio do Programa Inova e via desenvolvimento de ações para o aprimoramento do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS), o edital do projeto Tecnologias de cuidados indígenas: mapeamento participativo dos especialistas em medicinais indígenas do Estado do Ceará.
Juliana Alves, cacika Cacika do povo Jenipapo-Kanindé e da Secretaria dos Povos Indígenas do Ceará (Sepin), defende que a valorização dos conhecimentos tradicionais indígenas é fundamental para a construção de políticas de saúde mais inclusivas e eficazes. "Este edital representa um passo importante para reconhecer e fortalecer os especialistas indígenas em medicinas tradicionais, garantindo que seus saberes sejam respeitados e integrados às práticas de cuidado", declara. A secretária ressalta ainda que o edital possibilita a documentação e o compartilhamento de conhecimentos e saberes indígenas, contribuindo para a autonomia dos povos indígenas e a melhoria da saúde indígena no Ceará.
O agente indígena de saneamento básico e pesquisador da medicina tradicional e cultura alimentar indígena, Samuel Tremembé, indígena do povo Tremembé da Barra do Mundaú, analisa que o edital vem para fortalecer o que tem sido construído cotidianamente com as famílias indígenas, para garantir a existência e a valorização dos saberes ancestrais entre os povos, repassado de geração em geração por meio de palestras e rodas de conversa. "É também um trabalho que vem sendo feito dentro da escola, dentro da saúde, com os praticantes da medicina tradicional através dos cuidadores, rezadores, curandeiros. Esse trabalho do pesquisador é fundamental para a valorização dos cuidadores da medicina tradicional, frente ao mapeamento desses sujeitos", relata.
Buscando preencher uma lacuna histórica no registro e documentação das medicinas indígenas, criando um banco de dados acessível e dinâmico que servirá como referência para pesquisadores, gestores de saúde e lideranças indígenas, o projeto vai envolver todas as 15 etnias indígenas do Ceará, distribuídas em 106 aldeias de 17 municípios diferentes, atendidos pelos 10 pólos-base do DSEI-CE, sendo eles: Aratuba, Aquiraz, Anacé, Crateús, Itarema, Maracanaú, Monsenhor Tabosa, Potyrõ Tapeba, Poranga e São Benedito. O projeto deve mapear especialistas indígenas e suas práticas de cura, promovendo sua valorização e reconhecimento dentro do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SASI-SUS).
O coordenador indígena do projeto, Edivan Tremembé, destaca a relevância dessa abordagem e afirma que "a medicina indígena é parte essencial da nossa identidade e saúde coletiva". O coordenador aponta ainda que a ausência de reconhecimento e valorização desses saberes representam um grande risco ao esquecimento. "Este projeto busca garantir que os especialistas indígenas sejam reconhecidos como agentes de saúde, fortalecendo nossa autonomia e nossa cultura", informa.
Mapeamento participativo
O mapeamento tem como produto final a elaboração de uma plataforma online colaborativa destinada ao registro e compartilhamento de informações da pesquisa de campo, permitindo localizar detentores de saberes, mapeamento de práticas tradicionais e criação de cartografia da riqueza cultural e terapêutica presente nas etnias do Estado do Ceará. Além disso, o projeto deve ainda produzir imagens e depoimentos sobre a importância e a diversidade das medicinas indígenas no Ceará, sensibilizando a sociedade e os gestores públicos para a relevância dessas práticas ancestrais.
Reforçando o compromisso com o protagonismo e a participação ativa dos povos indígenas, o projeto vai selecionar dez pesquisadores indígenas que atuarão no levantamento de informações nos territórios. A formação dos pesquisadores incluirá oficinas sobre técnicas de mapeamento, registro audiovisual e sistematização dos dados da pesquisa, permitindo que os participantes desempenhem um papel ativo na pesquisa e se tornem multiplicadores desses conhecimentos dentro de suas comunidades.
Em entrevista para o BdF Ceará, Samuel Tremembé revela um dos trabalhos com medicina indígena desenvolvido pelo povo da Barra do Mundaú, onde envolve saúde, educação, juventude, no qual é pautado a valorização dos saberes ancestrais dentro do território. "Nós fazemos a feira da medicina tradicional, elaboramos rodas de conversas com cuidadores, palestras dentro das escolas, momentos de fortalecimento de nossas tradições, e também a distribuição de mudas medicinais nativas", conta. De acordo com o agente, poucas pessoas do território dominam a medicina tradicional, sendo esse o principal motivo pelo qual se organizam para construção de eventos voltados exclusivamente para a medicina indígena, buscando a formação de novos sujeitos e a preservação da ancestralidade.
O líder indígena, Paulo Anacé, da Grande Aldeia Kauype do povo Anacé, declara que o edital cumpre um papel fundamental para a continuidade da ancestralidade, história e espiritualidade, uma vez que fortalece a presença do povo indígena, mantendo viva a tradição do cuidado através da mãe natureza. A liderança aponta ainda que o edital pode contribuir para o desenvolvimento de novas pesquisas na área medicinal indígena através das plantas e, consequentemente, na proteção do meio ambiente, e nas diversas formas de preparo e uso dos bens naturais para a produção de chás, garrafadas, infusões, lambedores, banhos, rezas entre outros. "Nossa medicina ou nosso curar, vem através de nossos troncos velhos, nosso pajé e nossas benzedeiras, e acontece por meio do uso de nossas ervas que vem de nossas matas, nossos terreiros e nossas hortas medicinais existentes em todo território", encerra.
Para participar do processo seletivo, os interessados deverão se inscrever através do preenchimento e envio do anexo um para o email mapmedicinasindigenasce@gmail.com, juntamente dos documentos que comprovem ser indígena pertencente a povos atendidos pelos pólos-base já mencionados anteriormente, ter nível superior completo ou estar cursando uma graduação, comprovar conhecimento sobre as medicinas indígenas, residir em território indígena, demonstrar habilidade de comunicação e articulação comunitária, além de ter disponibilidade para participar de encontros presenciais e virtuais relacionados ao projeto. A seleção de pesquisadores é dividida em duas etapas, sendo elas a fase de análise documental e curricular (eliminatório) e entrevista individual (classificatório).
O pesquisador técnico em gestão de saúde indígena do DSEI-CE, João Paulo Vieira, assegura que o projeto representa um avanço significativo para o fortalecimento das medicinas indígenas e para a formulação de políticas públicas mais inclusivas. De acordo com o pesquisador entre os principais resultados esperados no desenvolvimento do projeto estão o mapeamento participativo dos especialistas indígenas e suas tecnologias; criação de um inventário; construção de plataforma digital para armazenamento em nuvem sobre medicinas indígenas e especialidades nos territórios; formação e capacitação de pesquisadores indígenas.
Por fim, o pesquisador descreve o papel fundamental que o DSEI-CE desempenha na construção de políticas de saúde para indígenas, destacando que o órgão promove uma série de ações práticas sanitárias e desenvolve atividades técnicas, visando medidas racionalizadas e qualificadas de atenção à saúde.
Para realização das atividades os pesquisadores bolsistas receberão durante o período de seis meses uma bolsa no valor de R$ 1 mil reais. E para os bolsistas que executarem o projeto em pólos-base que contemplem mais de um município, o pesquisador indígena receberá uma ajuda de custo adicional para o deslocamento nos respectivos territórios. O resultado oficial do processo de seleção será divulgado em 31 de março de 2025.
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Edição: Lívio Pereira
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