De Povos Indígenas no Brasil
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Nas mudanças climáticas, cada risco não tratado é um limite de adaptação perdido
31/03/2025
Autor: PINHO, Patricia
Fonte: OESP - https://www.estadao.com.br/
Nas mudanças climáticas, cada risco não tratado é um limite de adaptação perdido
O custo da inação pode chegar a US$ 150 bilhões anuais ao País até 2030
Patricia Pinho
Diretora-adjunta de Pesquisa do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), é autora líder do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC)
31/03/2025
A adaptação é um tipo de ação climática que trata os efeitos da mudança do clima. Ondas de calor cada vez mais frequentes são um exemplo deste tipo de problema. Uma medida de adaptação cabível é a alteração dos horários de entrada e saída na jornada dos trabalhadores ao ar livre, por exemplo. Mas não só.
Cada consequência negativa associada aos impactos das mudanças climáticas é um risco imposto à vida. E cada risco não tratado, ou ignorado, se converte num limite de adaptação perdido.
Em um momento de projeção do Brasil na agenda climática global, o espaço entre a identificação dos riscos e a aplicação de ferramentas locais de adaptação deveria estar diminuindo. Porém, a lacuna só aumenta: estamos minando qualquer possibilidade de existência na Amazônia porque não estamos tratando o problema.
Além de especular sobre a produção de mais petróleo, combustível fóssil que agrava as mudanças climáticas, o governo brasileiro cortou o orçamento de 2025 para o enfrentamento de eventos extremos como a seca.
O desafio de se adaptar está no nível político, mas também na estratégia. A adaptação só funciona se for local: soluções climáticas para a Região Sul do País não se aplicam ao Norte. Mesmo dentro de contextos similares, a adaptação deve ser, no fim das contas, uma política municipal.
Mas como falar em adaptação se 70,6% das cidades brasileiras têm menos de 20 mil habitantes e, portanto, estão dispensadas até da elaboração de plano diretor? O documento participativo seria um dos primeiros passos de qualquer medida adaptativa levando em conta as especificidades locais.
Esses pequenos municípios brasileiros, que abrigam 33,5 milhões de pessoas, são os que mais sofrem as consequências do clima extremo. A vulnerabilidade fica ainda maior diante dos riscos não tratados. Nos últimos 10 anos, as perdas relacionadas ao clima ultrapassaram 300% do Produto Interno Bruto (PIB) municipal das cidades amazônicas com menos de 20 mil habitantes. Quem paga a conta?
Mais da metade da população ribeirinha no bioma estará em insegurança alimentar e hídrica se a vazão dos rios continuar diminuindo. Pescadores, agricultores e extrativistas também.
A adaptação baseada nos ecossistemas nos diz que a proteção da floresta é inegociável. Com a natureza saudável, garante-se a saúde e o bem-estar humano por meio do acesso à comida, ar puro, chuva, transporte e renda, por exemplo. A ciência evidencia o caminho que nos leva a um superaquecimento global acima de 2oC, graças ao efeito cascata composto pelas mudanças climáticas e a mudança de uso da terra que, no Brasil, joga dinheiro fora pagando pelo desmate que prejudicará sua produção rural.
Planejar e executar políticas específicas e conservar os ambientes naturais - que ainda nos oferecem as condições para nossa sobrevivência - são medidas de adaptação mais do que urgentes.
Na Amazônia, que recebe a COP-30 no Brasil em novembro, tais medidas devem passar pela lente da justiça climática, tanto nacional como internacionalmente. Ao mesmo tempo em que o bioma e sua população são essenciais no enfrentamento das emergências do clima e da biodiversidade, são os menos responsáveis pelas alterações e impactos que estão sofrendo.
Caso os riscos continuem a ser ignorados, o custo da inação pode chegar a US$ 150 bilhões anuais ao País até 2030. O Plano Nacional de Adaptação e seus planos setoriais irão fornecer as diretrizes para colocar em prática o que precisa sair do papel. Resta saber se, na política real, as populações da Amazônia sofrendo com o clima terão, de uma vez por todas, visibilidade e espaço no Orçamento.
https://www.estadao.com.br/opiniao/espaco-aberto/nas-mudancas-climaticas-cada-risco-nao-tratado-e-um-limite-de-adaptacao-perdido/
O custo da inação pode chegar a US$ 150 bilhões anuais ao País até 2030
Patricia Pinho
Diretora-adjunta de Pesquisa do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), é autora líder do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC)
31/03/2025
A adaptação é um tipo de ação climática que trata os efeitos da mudança do clima. Ondas de calor cada vez mais frequentes são um exemplo deste tipo de problema. Uma medida de adaptação cabível é a alteração dos horários de entrada e saída na jornada dos trabalhadores ao ar livre, por exemplo. Mas não só.
Cada consequência negativa associada aos impactos das mudanças climáticas é um risco imposto à vida. E cada risco não tratado, ou ignorado, se converte num limite de adaptação perdido.
Em um momento de projeção do Brasil na agenda climática global, o espaço entre a identificação dos riscos e a aplicação de ferramentas locais de adaptação deveria estar diminuindo. Porém, a lacuna só aumenta: estamos minando qualquer possibilidade de existência na Amazônia porque não estamos tratando o problema.
Além de especular sobre a produção de mais petróleo, combustível fóssil que agrava as mudanças climáticas, o governo brasileiro cortou o orçamento de 2025 para o enfrentamento de eventos extremos como a seca.
O desafio de se adaptar está no nível político, mas também na estratégia. A adaptação só funciona se for local: soluções climáticas para a Região Sul do País não se aplicam ao Norte. Mesmo dentro de contextos similares, a adaptação deve ser, no fim das contas, uma política municipal.
Mas como falar em adaptação se 70,6% das cidades brasileiras têm menos de 20 mil habitantes e, portanto, estão dispensadas até da elaboração de plano diretor? O documento participativo seria um dos primeiros passos de qualquer medida adaptativa levando em conta as especificidades locais.
Esses pequenos municípios brasileiros, que abrigam 33,5 milhões de pessoas, são os que mais sofrem as consequências do clima extremo. A vulnerabilidade fica ainda maior diante dos riscos não tratados. Nos últimos 10 anos, as perdas relacionadas ao clima ultrapassaram 300% do Produto Interno Bruto (PIB) municipal das cidades amazônicas com menos de 20 mil habitantes. Quem paga a conta?
Mais da metade da população ribeirinha no bioma estará em insegurança alimentar e hídrica se a vazão dos rios continuar diminuindo. Pescadores, agricultores e extrativistas também.
A adaptação baseada nos ecossistemas nos diz que a proteção da floresta é inegociável. Com a natureza saudável, garante-se a saúde e o bem-estar humano por meio do acesso à comida, ar puro, chuva, transporte e renda, por exemplo. A ciência evidencia o caminho que nos leva a um superaquecimento global acima de 2oC, graças ao efeito cascata composto pelas mudanças climáticas e a mudança de uso da terra que, no Brasil, joga dinheiro fora pagando pelo desmate que prejudicará sua produção rural.
Planejar e executar políticas específicas e conservar os ambientes naturais - que ainda nos oferecem as condições para nossa sobrevivência - são medidas de adaptação mais do que urgentes.
Na Amazônia, que recebe a COP-30 no Brasil em novembro, tais medidas devem passar pela lente da justiça climática, tanto nacional como internacionalmente. Ao mesmo tempo em que o bioma e sua população são essenciais no enfrentamento das emergências do clima e da biodiversidade, são os menos responsáveis pelas alterações e impactos que estão sofrendo.
Caso os riscos continuem a ser ignorados, o custo da inação pode chegar a US$ 150 bilhões anuais ao País até 2030. O Plano Nacional de Adaptação e seus planos setoriais irão fornecer as diretrizes para colocar em prática o que precisa sair do papel. Resta saber se, na política real, as populações da Amazônia sofrendo com o clima terão, de uma vez por todas, visibilidade e espaço no Orçamento.
https://www.estadao.com.br/opiniao/espaco-aberto/nas-mudancas-climaticas-cada-risco-nao-tratado-e-um-limite-de-adaptacao-perdido/
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