De Povos Indígenas no Brasil
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Jovens disputam posto de embaixador na COP30
11/04/2025
Fonte: Valor Econômico - https://valor.globo.com/
Jovens disputam posto de embaixador na COP30
No total 24 candidatos pleiteiam direito de representar o Brasil no evento de Belém
11/04/2025
Luis Felipe Azevedo
"Como podemos ter tanta floresta, e um volume tão grande de desmatamento acontecendo?" Esse foi o questionamento feito pelo economista Felipe Storch quando as aulas na escola pública em que estudava, no Acre, eram impactadas por queimadas em setembro de cada ano. Mestrando em gestão ambiental na Universidade de Yale, o pesquisador especializado na área de pagamentos por serviços ambientais com povos originários, de 31 anos, é um dos 24 candidatos que disputam a vaga para representar o Brasil como embaixador da juventude climática na COP30, que ocorre em Belém, em novembro.
"Quero trazer a juventude para a discussão de financiamento climático. Durante a pandemia atuei para fortalecer instituições capazes de oferecer informações corretas para indígenas sobre a vacinação. Gostaria de ver mais projetos ambientais com visão de longo prazo. Precisamos entender que não falamos mais de projeções de mudanças climáticas, vivemos elas todos os dias."
O desejo de aprofundar os estudos levou o jovem a procurar cursos no exterior. Após estudar inglês em uma instituição particular, com bolsa, o acreano terminou o ensino médio em uma escola americana e foi aprovado em oito universidades, posteriormente.
Segundo o governo federal, o programa Jovem Campeão Climático (Presidency Youth Climate Champion - PYCC) visa fortalecer a participação da juventude brasileira nas políticas climáticas e nos processos internacionais de negociação. A função do PYCC foi criada na COP28, não possui vínculo empregatício com o governo e não prevê remuneração para o escolhido, que deve ter entre 18 e 35 anos, e será anunciado pela presidência da conferência.
Entre os nomes mais conhecidos na disputa está o da ativista indígena de 28 anos Walelasoetxeige Paiter Suruí, mais conhecida como Txai Suruí, de Rondônia, que ganhou projeção ao discursar na abertura da COP26.
Escolhido deve ter entre 18 e 35 anos e não terá vínculo empregatício nem remuneração
"A questão indígena está intrinsecamente ligada à ambiental. Buscamos fortalecer as nossas comunidades e a participação da juventude indígena na luta contra as mudanças climáticas e pelo respeito aos direitos humanos."
Também integra a lista a ativista e advogada Paloma Costa, de 32 anos, que fez parte do primeiro grupo de conselheiros jovens do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), anunciado em 2020. No ano seguinte, ela apresentou junto a Txai Suruí e outros quatro militantes ambientais uma ação jurídica contra o governo federal pedindo a revisão da meta brasileira no Acordo de Paris, apresentada pela gestão Bolsonaro em 2020, e a responsabilização pelo que chamaram de "pedalada climática", por regredir os compromissos do país na área.
"Minha pesquisa é focada no papel da ascensão dos movimentos da juventude por justiça climática e sua importância para o avanço de proteções socioambientais. Minha mãe sempre me ensinou sobre a importância de cuidar e preservar. Vejo o futuro como ancestral e sinto que o mais tenho a acrescentar está relacionado aos dez anos de experiência nessa luta pela inclusão da voz e de sugestões da juventude."
Assim como para Storch, a observação do ambiente em que viviam foi fundamental para que parte dos candidatos buscasse o estudo na área ambiental. Membro da Laclima, a primeira organização de advogados de mudanças climáticas na América Latina, Júlia Gusmão, de 26 anos, relembra que, enquanto viveu no Rio Grande do Norte, a ameaça de desertificação na caatinga motivou o interesse pela proteção do bioma.
"Conversando com lideranças estrangeiras na COP29 [no Azerbaijão] percebi que a Amazônia era conhecida por todos, mas não sabiam o que é a caatinga. O mundo não conhece o potencial desse bioma, o que me deixou instigada para levantar essa bandeira."
Já a produtora cultural Marcele Oliveira, de 25 anos, percebeu os dilemas ambientais ao realizar diariamente o trajeto de Realengo, na zona norte do Rio de Janeiro, até Niterói para estudar. No bairro em que vivia, um projeto que lutava por um parque fez com que a jovem tomasse dimensão dos impactos do racismo ambiental e encorpasse a luta pela defesa de áreas verdes nas periferias cariocas.
"Construo uma coalizão chamada Clima de Mudança que mobiliza o Estado no combate a enchentes e ampliando a dimensão de conscientização. Falar de mudanças climáticas é tratar de futuro, dos nossos direitos e da violação sistêmica deles, principalmente nas periferias do Brasil e do mundo."
Outros candidatos tomaram conhecimento das possibilidades disponíveis na área sustentável apenas enquanto cursavam o ensino superior. É o caso da engenheira de energia Emilly Caroline Costa, de 29 anos, que, ao ingressar na Universidade de Brasília (UnB), desejava trabalhar com combustíveis fósseis.
"Estudei em escola pública toda a minha vida e não se falava sobre mudanças climáticas. Entrei na universidade com o objetivo de começar uma carreira na área do petróleo e hoje pesquiso sobre energia sustentável."
Mestre em ciências jurídico-ambientais pela Universidade de Lisboa, o advogado capixaba Pedro Sampaio, de 28 anos, se define como um dos candidatos "menos óbvios" na corrida pela vaga de representante brasileiro na COP30, por ter uma carreira "mais voltada ao acadêmico" do que ao ativismo.
"A natureza sempre foi muito presente na minha vida. Meu trabalho é prioritariamente científico e quero representar os interesses da juventude brasileira por acreditar que minha formação me dá embasamento para essa defesa. Precisamos trazer as gerações mais novas para o debate. É a única solução para buscar soluções para aqueles que serão os mais afetados pelas mudanças climáticas."
Também advogada, a pesquisadora paulista Valeriana Broetto, de 26 anos, investiga a (i)mobilidade humana no contexto da mudança climática.
"Uma das minhas missões profissionais é trabalhar com a redução de risco de desastres, ao entendê-los como construções sociais, e não como eventos naturais. Quero fomentar a discussão em espaços mais formais para ressaltar a necessidade de financiamento para a área."
A lista de candidatos também é composta por Beatriz Azevedo, Brenda Hülle, Cláudia Gribeler, Danilo Ferreira, Gabriela Cangussu, Giulia Mancini, Guilherme Lima, Jahzara Johari, João Pedro Loureiro, Mahyryan Sampaio, Matthaeus Menezes, Mikaelle Farias, Roberta da Silveira, Suely Firmino, Taily de Faria e Victor Hazell.
https://valor.globo.com/brasil/cop30-amazonia/noticia/2025/04/11/jovens-disputam-posto-de-embaixador-na-cop30.ghtml
No total 24 candidatos pleiteiam direito de representar o Brasil no evento de Belém
11/04/2025
Luis Felipe Azevedo
"Como podemos ter tanta floresta, e um volume tão grande de desmatamento acontecendo?" Esse foi o questionamento feito pelo economista Felipe Storch quando as aulas na escola pública em que estudava, no Acre, eram impactadas por queimadas em setembro de cada ano. Mestrando em gestão ambiental na Universidade de Yale, o pesquisador especializado na área de pagamentos por serviços ambientais com povos originários, de 31 anos, é um dos 24 candidatos que disputam a vaga para representar o Brasil como embaixador da juventude climática na COP30, que ocorre em Belém, em novembro.
"Quero trazer a juventude para a discussão de financiamento climático. Durante a pandemia atuei para fortalecer instituições capazes de oferecer informações corretas para indígenas sobre a vacinação. Gostaria de ver mais projetos ambientais com visão de longo prazo. Precisamos entender que não falamos mais de projeções de mudanças climáticas, vivemos elas todos os dias."
O desejo de aprofundar os estudos levou o jovem a procurar cursos no exterior. Após estudar inglês em uma instituição particular, com bolsa, o acreano terminou o ensino médio em uma escola americana e foi aprovado em oito universidades, posteriormente.
Segundo o governo federal, o programa Jovem Campeão Climático (Presidency Youth Climate Champion - PYCC) visa fortalecer a participação da juventude brasileira nas políticas climáticas e nos processos internacionais de negociação. A função do PYCC foi criada na COP28, não possui vínculo empregatício com o governo e não prevê remuneração para o escolhido, que deve ter entre 18 e 35 anos, e será anunciado pela presidência da conferência.
Entre os nomes mais conhecidos na disputa está o da ativista indígena de 28 anos Walelasoetxeige Paiter Suruí, mais conhecida como Txai Suruí, de Rondônia, que ganhou projeção ao discursar na abertura da COP26.
Escolhido deve ter entre 18 e 35 anos e não terá vínculo empregatício nem remuneração
"A questão indígena está intrinsecamente ligada à ambiental. Buscamos fortalecer as nossas comunidades e a participação da juventude indígena na luta contra as mudanças climáticas e pelo respeito aos direitos humanos."
Também integra a lista a ativista e advogada Paloma Costa, de 32 anos, que fez parte do primeiro grupo de conselheiros jovens do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), anunciado em 2020. No ano seguinte, ela apresentou junto a Txai Suruí e outros quatro militantes ambientais uma ação jurídica contra o governo federal pedindo a revisão da meta brasileira no Acordo de Paris, apresentada pela gestão Bolsonaro em 2020, e a responsabilização pelo que chamaram de "pedalada climática", por regredir os compromissos do país na área.
"Minha pesquisa é focada no papel da ascensão dos movimentos da juventude por justiça climática e sua importância para o avanço de proteções socioambientais. Minha mãe sempre me ensinou sobre a importância de cuidar e preservar. Vejo o futuro como ancestral e sinto que o mais tenho a acrescentar está relacionado aos dez anos de experiência nessa luta pela inclusão da voz e de sugestões da juventude."
Assim como para Storch, a observação do ambiente em que viviam foi fundamental para que parte dos candidatos buscasse o estudo na área ambiental. Membro da Laclima, a primeira organização de advogados de mudanças climáticas na América Latina, Júlia Gusmão, de 26 anos, relembra que, enquanto viveu no Rio Grande do Norte, a ameaça de desertificação na caatinga motivou o interesse pela proteção do bioma.
"Conversando com lideranças estrangeiras na COP29 [no Azerbaijão] percebi que a Amazônia era conhecida por todos, mas não sabiam o que é a caatinga. O mundo não conhece o potencial desse bioma, o que me deixou instigada para levantar essa bandeira."
Já a produtora cultural Marcele Oliveira, de 25 anos, percebeu os dilemas ambientais ao realizar diariamente o trajeto de Realengo, na zona norte do Rio de Janeiro, até Niterói para estudar. No bairro em que vivia, um projeto que lutava por um parque fez com que a jovem tomasse dimensão dos impactos do racismo ambiental e encorpasse a luta pela defesa de áreas verdes nas periferias cariocas.
"Construo uma coalizão chamada Clima de Mudança que mobiliza o Estado no combate a enchentes e ampliando a dimensão de conscientização. Falar de mudanças climáticas é tratar de futuro, dos nossos direitos e da violação sistêmica deles, principalmente nas periferias do Brasil e do mundo."
Outros candidatos tomaram conhecimento das possibilidades disponíveis na área sustentável apenas enquanto cursavam o ensino superior. É o caso da engenheira de energia Emilly Caroline Costa, de 29 anos, que, ao ingressar na Universidade de Brasília (UnB), desejava trabalhar com combustíveis fósseis.
"Estudei em escola pública toda a minha vida e não se falava sobre mudanças climáticas. Entrei na universidade com o objetivo de começar uma carreira na área do petróleo e hoje pesquiso sobre energia sustentável."
Mestre em ciências jurídico-ambientais pela Universidade de Lisboa, o advogado capixaba Pedro Sampaio, de 28 anos, se define como um dos candidatos "menos óbvios" na corrida pela vaga de representante brasileiro na COP30, por ter uma carreira "mais voltada ao acadêmico" do que ao ativismo.
"A natureza sempre foi muito presente na minha vida. Meu trabalho é prioritariamente científico e quero representar os interesses da juventude brasileira por acreditar que minha formação me dá embasamento para essa defesa. Precisamos trazer as gerações mais novas para o debate. É a única solução para buscar soluções para aqueles que serão os mais afetados pelas mudanças climáticas."
Também advogada, a pesquisadora paulista Valeriana Broetto, de 26 anos, investiga a (i)mobilidade humana no contexto da mudança climática.
"Uma das minhas missões profissionais é trabalhar com a redução de risco de desastres, ao entendê-los como construções sociais, e não como eventos naturais. Quero fomentar a discussão em espaços mais formais para ressaltar a necessidade de financiamento para a área."
A lista de candidatos também é composta por Beatriz Azevedo, Brenda Hülle, Cláudia Gribeler, Danilo Ferreira, Gabriela Cangussu, Giulia Mancini, Guilherme Lima, Jahzara Johari, João Pedro Loureiro, Mahyryan Sampaio, Matthaeus Menezes, Mikaelle Farias, Roberta da Silveira, Suely Firmino, Taily de Faria e Victor Hazell.
https://valor.globo.com/brasil/cop30-amazonia/noticia/2025/04/11/jovens-disputam-posto-de-embaixador-na-cop30.ghtml
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