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COP30: atraso das promessas de corte de emissão de gases do efeito estufa ameaça acordo do clima
17/04/2025
Fonte: O Globo - https://oglobo.globo.com/
COP30: atraso das promessas de corte de emissão de gases do efeito estufa ameaça acordo do clima
Meta mais importante é a de que o planeta não pode ter um acréscimo de temperatura superior a 1,5oC
17/04/2025
Rafael Garcia
Uma sigla usada por diplomatas que negociam o combate ao aquecimento global está mais conhecida por um motivo preocupante. As NDCs (contribuições nacionalmente determinadas), compromissos de corte na emissão de gases de efeito estufa por cada país, estão com entrega atrasada para a conferência do clima de Belém, a COP30.
Esses dispositivos, que devem ser renovados periodicamente pelos países do Acordo de Paris para o clima, podem determinar o sucesso ou o fracasso do encontro de novembro. Na atual rodada de negociação, só 19 dos 197 países da Convenção do Clima da ONU divulgaram suas NDCs no prazo, que vencia em fevereiro e foi prorrogado.
O Acordo de Paris é um tratado com poucos itens obrigatórios. No caso da NDC, cada nação determina quanto, como e quando deve cortar de emissões. Depois, soma-se o total prometido e faz-se uma avaliação. A intenção é que, juntas, essas promessas sejam ambiciosas o suficiente para conter o aquecimento global.
As NDCs de hoje, porém, estão longe de serem ousadas o bastante para evitar mergulhar o planeta em um clima inseguro. Países do tratado estabeleceram um prazo para que elas melhorem, mas a maioria está atrasada na lição de casa.
A meta mais importante mencionada no acordo do clima é a de que o planeta não pode ter um acréscimo de temperatura superior a 1,5oC, ou que ao menos fique bem abaixo dos 2oC. Para entrar nessa faixa segura, o mundo precisaria cortar até 2030 mais de 45% das emissões que possuía em 2019.
Nos últimos cinco anos, porém, o que se viu foram as emissões aumentarem o equivalente a 1 bilhão de toneladas de CO2, indo de 52,8 bilhões para 53,8 bilhões por ano. No ritmo atual, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), os gases-estufa tornarão o planeta 3,1oC mais quente até 2100, data de projeção usada nos cenários. O CO2 não é o único gás-estufa relevante para a crise do clima, mas no contexto das negociações, o efeito de outras substâncias é traduzido em medida equivalente deste gás.
O cumprimento do acordo, em princípio, mitigaria o aquecimento do planeta. Mas mesmo que todas as NDCs atuais sejam cumpridas, o mundo será um lugar de 2,6oC a 2,8oC mais quente, ainda bem acima da meta.
Consequências
Uma diferença de menos de 1oC parece pouco. Mas quando se trata de um acréscimo de energia para o planeta, traduz-se em mais tempestades, mais secas, elevação do nível do mar e outras consequências indesejáveis.
Um problema que mudou de patamar a discussão do acordo do clima é que o ano de 2024 já foi 1,5oC mais quente do que a média antes da Revolução Industrial no século XVIII. Ainda que tenha sido uma marca rompida uma única vez e sujeita a alguma oscilação, ela é sinal de que a ação climática precisa acelerar.
Na atual rodada de anúncios de NDCs, os países precisam determinar seus objetivos para 2035, o que abre oportunidade para ampliação das ambições. O Brasil, anfitrião da COP30, é um dos poucos que já entregaram o documento no prazo. Segundo a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, a intenção é estimular outros signatários a ampliarem mais as suas NDCs.
O governo brasileiro promete eliminar de 59% a 67% das emissões, em relação ao ano-base de 2005. Os critérios para avaliar se esta NDC está alinhada com a meta de 1,5oC não são claros, e especialistas pedem mais. Mas outros países reconhecem que a promessa do Brasil tem uma ambição bem acima da média global hoje.
- O Brasil se dispôs a liderar pelo exemplo - disse Marina, em conversa com jornalistas depois de uma palestra na USP. - Estamos fazendo o esforço de diplomacia climática, que é dialogar com diferentes países para que suas NDCs sejam igualmente ambiciosas.
Um outro anúncio que vem ajudando a impulsionar a ambição é a promessa do Reino Unido de reduzir em 81% de suas emissões em relação a 1990. O elefante na sala são os Estados Unidos, que chegaram a prometer uma NDC de mais de 60% de corte em relação a 2005, mas sinalizaram que vão deixar o Acordo de Paris depois de Donald Trump ter assumido a presidência.
O presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, lamentou a saída dos EUA, em parte porque o sistema não obrigatório dos cortes de emissão do acordo foi desenhado para que os EUA aceitassem assiná-lo em 2015.
- As NDCs são o que o país voluntariamente diz que vai fazer para cumprir com as orientações da convenção em relação às suas emissões - explicou o diplomata a jornalistas após encontro com empresários do setor florestal em São Paulo.
Corrêa do Lago diz que os brasileiros buscam mostrar com sua NDC que cortes de emissão são compatíveis com uma economia saudável.
- Nossa NDC também contempla o combate à pobreza e a melhora de qualidade de vida. Ela é uma maneira de conseguirmos convencer os atores econômicos de que investir no combate às mudanças do clima é positivo para a economia e para a população - disse.
O prazo para entrega das novas NDCs foi prorrogado, e ainda são aguardadas contribuições de alguns grandes países. Faltam as submissões da União Europeia, que negocia em bloco, da Índia, com a maior população do mundo, e da China, maior emissor do planeta.
Para a analista Natalie Unterstell, do Instituto Talanoa, turbulências globais como a guerra na Ucrânia atrapalham o cenário, porque sabotam espaços de negociação multilateral. Some-se a isso a guerra de tarifas que Trump desencadeou.
- A grande expectativa no processo agora é o anúncio da NDC da China, que não deu muitos sinais explícitos sobre o que pretende fazer ainda. O que os chineses anunciarem tem a chance de levar a negociação climática para um outro patamar - afirma Unterstell.
Há uma expectativa de que os chineses anunciem sua NDC logo, já que o Brasil recebe uma comitiva de autoridades do país asiático nesta semana. A guerra fiscal internacional desencadeada recentemente pelos EUA, porém, pode atrapalhar essa agenda.
Se na Ásia ha uma esperança de avanço para o acordo clima neste ano, na Europa há expectativa de retrocesso, apesar de o Velho Continente ter sido um dos campeões do clima nas últimas décadas.
- Os europeus estão numa situação política difícil, com vários países guinando para a direita ou ultradireita, alguns com uma reação interna à transição energética - afirma. - Existem lá inclusive campanhas de desinformação dizendo que a inflação é causada pela transição energética, o que não é verdade.
Para Unterstell, os impasses vividos no debate climático refletem, em última instância, a crise do multilateralismo. O impacto concreto desse problema poderá ser medido no fim do ano com as NDCs que países terão para mostrar na COP30.
https://oglobo.globo.com/brasil/cop-30-amazonia/noticia/2025/04/17/cop30-atraso-das-promessas-de-corte-de-emissao-de-gases-do-efeito-estufa-ameaca-acordo-do-clima.ghtml
Meta mais importante é a de que o planeta não pode ter um acréscimo de temperatura superior a 1,5oC
17/04/2025
Rafael Garcia
Uma sigla usada por diplomatas que negociam o combate ao aquecimento global está mais conhecida por um motivo preocupante. As NDCs (contribuições nacionalmente determinadas), compromissos de corte na emissão de gases de efeito estufa por cada país, estão com entrega atrasada para a conferência do clima de Belém, a COP30.
Esses dispositivos, que devem ser renovados periodicamente pelos países do Acordo de Paris para o clima, podem determinar o sucesso ou o fracasso do encontro de novembro. Na atual rodada de negociação, só 19 dos 197 países da Convenção do Clima da ONU divulgaram suas NDCs no prazo, que vencia em fevereiro e foi prorrogado.
O Acordo de Paris é um tratado com poucos itens obrigatórios. No caso da NDC, cada nação determina quanto, como e quando deve cortar de emissões. Depois, soma-se o total prometido e faz-se uma avaliação. A intenção é que, juntas, essas promessas sejam ambiciosas o suficiente para conter o aquecimento global.
As NDCs de hoje, porém, estão longe de serem ousadas o bastante para evitar mergulhar o planeta em um clima inseguro. Países do tratado estabeleceram um prazo para que elas melhorem, mas a maioria está atrasada na lição de casa.
A meta mais importante mencionada no acordo do clima é a de que o planeta não pode ter um acréscimo de temperatura superior a 1,5oC, ou que ao menos fique bem abaixo dos 2oC. Para entrar nessa faixa segura, o mundo precisaria cortar até 2030 mais de 45% das emissões que possuía em 2019.
Nos últimos cinco anos, porém, o que se viu foram as emissões aumentarem o equivalente a 1 bilhão de toneladas de CO2, indo de 52,8 bilhões para 53,8 bilhões por ano. No ritmo atual, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), os gases-estufa tornarão o planeta 3,1oC mais quente até 2100, data de projeção usada nos cenários. O CO2 não é o único gás-estufa relevante para a crise do clima, mas no contexto das negociações, o efeito de outras substâncias é traduzido em medida equivalente deste gás.
O cumprimento do acordo, em princípio, mitigaria o aquecimento do planeta. Mas mesmo que todas as NDCs atuais sejam cumpridas, o mundo será um lugar de 2,6oC a 2,8oC mais quente, ainda bem acima da meta.
Consequências
Uma diferença de menos de 1oC parece pouco. Mas quando se trata de um acréscimo de energia para o planeta, traduz-se em mais tempestades, mais secas, elevação do nível do mar e outras consequências indesejáveis.
Um problema que mudou de patamar a discussão do acordo do clima é que o ano de 2024 já foi 1,5oC mais quente do que a média antes da Revolução Industrial no século XVIII. Ainda que tenha sido uma marca rompida uma única vez e sujeita a alguma oscilação, ela é sinal de que a ação climática precisa acelerar.
Na atual rodada de anúncios de NDCs, os países precisam determinar seus objetivos para 2035, o que abre oportunidade para ampliação das ambições. O Brasil, anfitrião da COP30, é um dos poucos que já entregaram o documento no prazo. Segundo a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, a intenção é estimular outros signatários a ampliarem mais as suas NDCs.
O governo brasileiro promete eliminar de 59% a 67% das emissões, em relação ao ano-base de 2005. Os critérios para avaliar se esta NDC está alinhada com a meta de 1,5oC não são claros, e especialistas pedem mais. Mas outros países reconhecem que a promessa do Brasil tem uma ambição bem acima da média global hoje.
- O Brasil se dispôs a liderar pelo exemplo - disse Marina, em conversa com jornalistas depois de uma palestra na USP. - Estamos fazendo o esforço de diplomacia climática, que é dialogar com diferentes países para que suas NDCs sejam igualmente ambiciosas.
Um outro anúncio que vem ajudando a impulsionar a ambição é a promessa do Reino Unido de reduzir em 81% de suas emissões em relação a 1990. O elefante na sala são os Estados Unidos, que chegaram a prometer uma NDC de mais de 60% de corte em relação a 2005, mas sinalizaram que vão deixar o Acordo de Paris depois de Donald Trump ter assumido a presidência.
O presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, lamentou a saída dos EUA, em parte porque o sistema não obrigatório dos cortes de emissão do acordo foi desenhado para que os EUA aceitassem assiná-lo em 2015.
- As NDCs são o que o país voluntariamente diz que vai fazer para cumprir com as orientações da convenção em relação às suas emissões - explicou o diplomata a jornalistas após encontro com empresários do setor florestal em São Paulo.
Corrêa do Lago diz que os brasileiros buscam mostrar com sua NDC que cortes de emissão são compatíveis com uma economia saudável.
- Nossa NDC também contempla o combate à pobreza e a melhora de qualidade de vida. Ela é uma maneira de conseguirmos convencer os atores econômicos de que investir no combate às mudanças do clima é positivo para a economia e para a população - disse.
O prazo para entrega das novas NDCs foi prorrogado, e ainda são aguardadas contribuições de alguns grandes países. Faltam as submissões da União Europeia, que negocia em bloco, da Índia, com a maior população do mundo, e da China, maior emissor do planeta.
Para a analista Natalie Unterstell, do Instituto Talanoa, turbulências globais como a guerra na Ucrânia atrapalham o cenário, porque sabotam espaços de negociação multilateral. Some-se a isso a guerra de tarifas que Trump desencadeou.
- A grande expectativa no processo agora é o anúncio da NDC da China, que não deu muitos sinais explícitos sobre o que pretende fazer ainda. O que os chineses anunciarem tem a chance de levar a negociação climática para um outro patamar - afirma Unterstell.
Há uma expectativa de que os chineses anunciem sua NDC logo, já que o Brasil recebe uma comitiva de autoridades do país asiático nesta semana. A guerra fiscal internacional desencadeada recentemente pelos EUA, porém, pode atrapalhar essa agenda.
Se na Ásia ha uma esperança de avanço para o acordo clima neste ano, na Europa há expectativa de retrocesso, apesar de o Velho Continente ter sido um dos campeões do clima nas últimas décadas.
- Os europeus estão numa situação política difícil, com vários países guinando para a direita ou ultradireita, alguns com uma reação interna à transição energética - afirma. - Existem lá inclusive campanhas de desinformação dizendo que a inflação é causada pela transição energética, o que não é verdade.
Para Unterstell, os impasses vividos no debate climático refletem, em última instância, a crise do multilateralismo. O impacto concreto desse problema poderá ser medido no fim do ano com as NDCs que países terão para mostrar na COP30.
https://oglobo.globo.com/brasil/cop-30-amazonia/noticia/2025/04/17/cop30-atraso-das-promessas-de-corte-de-emissao-de-gases-do-efeito-estufa-ameaca-acordo-do-clima.ghtml
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