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Fotogaleria: Vozes ancestrais e maracás entonam a luta indígena no Acampamento Terra Livre

11/04/2025

Fonte: Info Amazonia - https://www.amazonialatitude.com



Nesta semana, entre os corredores políticos e a arquitetura modernista de Brasília, indígenas e aliados se reúnem para reivindicar a demarcação de suas terras ancestrais e a efetivação de políticas públicas capazes de reparar feridas históricas negligenciadas.

Organizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e suas organizações regionais, o Acampamento Terra Livre (ATL) é o maior encontro nacional dos povos originários e reúne hoje mais de 8 mil representantes de até 200 etnias. Desde 2004, o Acampamento tem sido palco de intensas mobilizações e, neste ano, celebra os 20 anos da organização com o tema "Apib somos todos nós - Em defesa da Constituição e da vida".

Realizado entre os dias 7 e 11 de abril de 2025, o ATL se estabelece como uma estufa ideológica e cultural pautada por 5 eixos temáticos: "Apib Somos Todos Nós", "Resistência e Conquista", "Desconstitucionalização de Direitos", "Fortalecendo a Democracia" e "Em Defesa do Futuro - A Resposta Somos Nós".

As discussões giram em torno das seguintes pautas: a aceleração da demarcação de terras, a crítica à Lei 14.701 - popularmente conhecida como "Lei do Marco Temporal" -, a transição energética justa, o reconhecimento da autoridade climática dos povos originários, a resistência LGBTI+ e a denúncia das tentativas de conciliação forçada imposta pelo Supremo Tribunal Federal, que reduzem o direito dos povos indígenas a ocupar seus territórios ancestrais.

No primeiro dia, os acordos de convivência e a apresentação das delegações estabelecem o tom: a união e a resistência dos povos originários são celebradas em plenárias repletas de relatos e de expectativas para o futuro, enquanto sessões culturais enfatizam o legado dos 20 anos da Apib.

Durante a terça-feira (8), os participantes se mobilizaram nas ruas de Brasília para a marcha "APIB Somos Todos Nós: Nosso Futuro Não Está à Venda", um ato que culminou em uma sessão na Câmara dos Deputados, na qual os presentes reafirmaram suas demandas por demarcação de terras e a denúncia contra as políticas restritivas. No dia seguinte, em sessões como a intitulada "O Acordo Sem Voz", líderes indígenas, especialistas e ativistas debateram as implicações da Câmara de Conciliação do STF.
Dia 10: Confrontos e repressão

O dia 10 de abril destacou-se pelo episódio mais impactante da jornada. Pouco antes do início da manifestação, um áudio vazado circulou amplamente nas redes sociais, antecipando que poderiam ocorrer agressões durante a marcha "A Resposta Somos Nós". Nesse áudio, vozes associadas ao planejamento da segurança do evento sugeriam a possibilidade de uma intervenção violenta para conter os manifestantes, o que acabou se concretizando à tarde.

Durante a marcha, que saiu do acampamento na antiga Funarte por volta das 17h, os participantes ecoavam cânticos ancestrais e avançavam em direção ao Congresso Nacional. As forças de segurança recorreram ao uso de gás lacrimogêneo e spray de pimenta para afastar os manifestantes, deixando vários feridos e um hospitalizado.

Entre as vítimas estava a deputada federal Célia Xacriabá, do PSOL, que sofreu lesões significativas - especialmente nos olhos -, necessitando de atendimento urgente pelo Corpo de Bombeiros. Em vídeo divulgado pela assessoria de imprensa da parlamentar, ela aparece se identificando como deputada federal eleita enquanto sofre com a ardência nos olhos causada pelo gás. Mesmo assim, a polícia impediu momentaneamente sua passagem para o parlamento, exigindo identificação.

Em resposta, a Ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, juntamente com diversas instituições, inclusive a Apib, manifestou repúdio às cenas de violência ocorridas. Segundo relatos, a Câmara dos Deputados afirmou que os manifestantes teriam descumprido o acordo pré-estabelecido e avançado além da área demarcada, uma vez que alguns participantes derrubaram grades de contenção. Já a Secretaria de Polícia do Senado Federal justificou a intervenção afirmando que "foi preciso conter os manifestantes" que avançavam sobre a sede do Poder Legislativo.

A Apib, por sua vez, esclareceu que não houve orientação sobre esses limites em reunião convocada pela Secretaria de Segurança do Distrito Federal na véspera do evento. Além disso, no meio do tumulto, manifestantes alegaram ouvir declarações de cunho racista incentivando a violência contra os indígenas, agravando o clima de repúdio e indignação que marcou o dia. Segundo os diretores da Polícia Legislativa, será aberta uma investigação para apurar a "invasão".

Por fim, no dia 11, mesmo com os ataques da noite anterior, a programação segue com rodas de conversa e a leitura coletiva de uma Carta Aberta ao Mundo, o documento final que registra o balanço do evento e a união dos 8 mil indígenas presentes. Agora, ainda mais que antes, as atividades do dia reafirmam a estratégia de resistência - um espaço onde os povos originários articulam suas demandas, revigoram suas identidades e celebram seus 20 anos de mobilização.

Nesse cenário, o Acampamento Terra Livre se reafirma como um espaço para o confronto pacífico, democrático e justo. Enquanto que os indígenas - com maracás em punho e rostos pintados de urucum e jenipapo - lutam pelo direito de ocupar seus territórios e preservar sua cultura em cada manifestação, plenária e ato de repúdio. Mostrando assim a determinação de povos que, mesmo diante da violência institucional, se erguem para transformar a dor em força e resistência.

Mergulhe na fotogaleria com registros de Walter Kumaruara, do Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns, e da Agência Brasil

O evento começou na segunda-feira, 7 de abril.

O Acampamento Terra Livre contou com a presença de mais de 8 mil indígenas.

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