De Povos Indígenas no Brasil
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"Quando um indígena resiste, o mundo respira": a moda, a arte e a luta por território, segundo Samara Borari
19/04/2025
Autor: Fernanda Simon
Fonte: Revista Vogue - https://vogue.globo.com/
"Quando um indígena resiste, o mundo respira": a moda, a arte e a luta por território, segundo Samara Borari
No Dia dos Povos Indígenas, Fernanda Simon traz à luz em nova coluna como jovens ativistas usam suas raízes ancestrais para transformar o presente
Os povos indígenas estão entre os principais responsáveis pela preservação dos territórios naturais e da biodiversidade, no Brasil e no mundo. Ainda assim, seguem lutando diariamente pelo reconhecimento de seus direitos e pela demarcação de terras. Para a jovem ativista Samara Borari, essa resistência se manifesta de diversas formas - na arte, na música, na moda, e na relação com o território e os saberes ancestrais.
"A arte, a música, a moda... tudo isso a gente vê como forma de resistir", afirma Samara. "Quando a gente canta, quando a gente pinta - tanto o corpo quanto as roupas -, quando a gente desfila com roupas tradicionais ou cria uma moda contemporânea conforme o nosso saber, a gente está dizendo que estamos aqui. Somos presença, somos movimento, somos tecnologia do futuro".
Dentro das muitas culturas indígenas, os objetos do dia a dia não são apenas utensílios funcionais, mas carregam significados profundos. Eles são expressão simbólica, veículos de memória e espiritualidade. "Grafismo não é um desenho, é uma memória, uma espiritualidade, uma história viva... A música é uma reza, uma denúncia, uma cura, uma resistência", explica Samara. Essa dimensão simbólica se estende também à moda, que para os povos indígenas não é apenas vestimenta, mas território.
"A moda pra gente não é só roupa, é um território também. A gente fala muito do corpo-território. A roupa também é um território simbólico, uma narrativa ancestral. Quando a gente veste as nossas peças, a gente não está só com adornos. A gente está contando as nossas histórias, reafirmando quem a gente é, ocupando os espaços em que, historicamente, a gente foi apagado", diz. Para Samara, é fundamental que o espaço da moda também seja ocupado de maneira permanente por artistas, estilistas e influenciadores indígenas, e não apenas como uma tendência passageira. "A gente precisa lutar para que isso tome cada vez mais força, para que não seja só uma tendência, mas também uma permanência do respeito ao autor indígena".
A luta pelo território permanece no centro das mobilizações dos povos originários, sobretudo diante do avanço do desmatamento provocado por atividades como o agronegócio e o garimpo. Essas ameaças comprometem não apenas a existência dos povos locais, mas de toda a humanidade, num momento em que o planeta já enfrenta o aumento das temperaturas em níveis alarmantes. "Nosso movimento tem muita força e muita voz", diz a ativista. "Quando a gente fala de território, falando do meu território, por exemplo, a Amazônia Paranaense, a gente fala muito dos rios, das nossas florestas. Os rios aqui são nossas estradas, mas também são nossos mestres: são os encantados. A gente tem muita essa conexão com a natureza, com o canto dos pássaros, o som dos maracás... Eles fazem parte da nossa vida, da nossa cultura. Isso tudo está envolvido".
Segundo Samara, o território não é apenas um bem material, mas um ser vivo dotado de saberes e relações. "Os encantamentos, os encantados, a ciência ancestral... Território pra gente não é só um pedaço de terra. É um ser vivo também. E quando a gente vê esse nosso território adoecendo, a gente adoece também".
Outro ponto central na fala da ativista é o protagonismo das mulheres indígenas. Ela destaca que, em seu território, o modelo de organização é matriarcal, e as mulheres estão à frente das tomadas de decisões e das estratégias de resistência. "As mulheres estão liderando marchas, articulações entre os territórios, produzindo conhecimento - de arte, de ciência e de política. Temos aí a Sônia Guajajara e a Célia Xakriabá dentro do governo! As mulheres são guardiãs das memórias e estrategistas do presente. O feminismo indígena é diferente, ele nasce com essa coletividade do território, da proteção da vida de todas as formas".
Samara também reforça o papel da sociedade como aliada na luta dos povos indígenas. Para ela, todos podem contribuir com ações concretas. "Pra quem não é indígena e quer ajudar, é necessário trazer essa reflexão: 'O que eu posso fazer hoje para ajudar a proteger?'. Proteger os defensores! Os indígenas são os defensores dessa luta, da floresta. Essa luta é de todos que querem ajudar e que querem que o planeta continue existindo, continue vivo. Escutar, apoiar, votar com consciência - isso importa muito. Faz muita diferença. Que o Dia dos Povos Indígenas não seja só lembrado, mas vivido. Porque enquanto houver floresta, a gente vai continuar cantando, resistindo com a nossa arte, a nossa cultura. Enquanto houver indígenas, eu vejo que haverá esperança".
Ao final, Samara compartilha o que considera o verdadeiro sentido do Dia dos Povos Indígenas. "É uma chamada de responsabilidade. Não é um folclore que foi escolhido pelo país. É pra ser um dia de respeito, de escuta das nossas pautas, que amplifique nossas vozes, que caminhe junto. Uma coisa que eu gosto muito de dizer é: quando um indígena resiste, o mundo respira. Então, a nossa resistência é a solução pra gente continuar respirando".
https://vogue.globo.com/vogue-negocios/noticia/2025/04/quando-um-indigena-resiste-o-mundo-respira-a-moda-a-arte-e-a-luta-por-territorio-segundo-samara-borari.ghtml
No Dia dos Povos Indígenas, Fernanda Simon traz à luz em nova coluna como jovens ativistas usam suas raízes ancestrais para transformar o presente
Os povos indígenas estão entre os principais responsáveis pela preservação dos territórios naturais e da biodiversidade, no Brasil e no mundo. Ainda assim, seguem lutando diariamente pelo reconhecimento de seus direitos e pela demarcação de terras. Para a jovem ativista Samara Borari, essa resistência se manifesta de diversas formas - na arte, na música, na moda, e na relação com o território e os saberes ancestrais.
"A arte, a música, a moda... tudo isso a gente vê como forma de resistir", afirma Samara. "Quando a gente canta, quando a gente pinta - tanto o corpo quanto as roupas -, quando a gente desfila com roupas tradicionais ou cria uma moda contemporânea conforme o nosso saber, a gente está dizendo que estamos aqui. Somos presença, somos movimento, somos tecnologia do futuro".
Dentro das muitas culturas indígenas, os objetos do dia a dia não são apenas utensílios funcionais, mas carregam significados profundos. Eles são expressão simbólica, veículos de memória e espiritualidade. "Grafismo não é um desenho, é uma memória, uma espiritualidade, uma história viva... A música é uma reza, uma denúncia, uma cura, uma resistência", explica Samara. Essa dimensão simbólica se estende também à moda, que para os povos indígenas não é apenas vestimenta, mas território.
"A moda pra gente não é só roupa, é um território também. A gente fala muito do corpo-território. A roupa também é um território simbólico, uma narrativa ancestral. Quando a gente veste as nossas peças, a gente não está só com adornos. A gente está contando as nossas histórias, reafirmando quem a gente é, ocupando os espaços em que, historicamente, a gente foi apagado", diz. Para Samara, é fundamental que o espaço da moda também seja ocupado de maneira permanente por artistas, estilistas e influenciadores indígenas, e não apenas como uma tendência passageira. "A gente precisa lutar para que isso tome cada vez mais força, para que não seja só uma tendência, mas também uma permanência do respeito ao autor indígena".
A luta pelo território permanece no centro das mobilizações dos povos originários, sobretudo diante do avanço do desmatamento provocado por atividades como o agronegócio e o garimpo. Essas ameaças comprometem não apenas a existência dos povos locais, mas de toda a humanidade, num momento em que o planeta já enfrenta o aumento das temperaturas em níveis alarmantes. "Nosso movimento tem muita força e muita voz", diz a ativista. "Quando a gente fala de território, falando do meu território, por exemplo, a Amazônia Paranaense, a gente fala muito dos rios, das nossas florestas. Os rios aqui são nossas estradas, mas também são nossos mestres: são os encantados. A gente tem muita essa conexão com a natureza, com o canto dos pássaros, o som dos maracás... Eles fazem parte da nossa vida, da nossa cultura. Isso tudo está envolvido".
Segundo Samara, o território não é apenas um bem material, mas um ser vivo dotado de saberes e relações. "Os encantamentos, os encantados, a ciência ancestral... Território pra gente não é só um pedaço de terra. É um ser vivo também. E quando a gente vê esse nosso território adoecendo, a gente adoece também".
Outro ponto central na fala da ativista é o protagonismo das mulheres indígenas. Ela destaca que, em seu território, o modelo de organização é matriarcal, e as mulheres estão à frente das tomadas de decisões e das estratégias de resistência. "As mulheres estão liderando marchas, articulações entre os territórios, produzindo conhecimento - de arte, de ciência e de política. Temos aí a Sônia Guajajara e a Célia Xakriabá dentro do governo! As mulheres são guardiãs das memórias e estrategistas do presente. O feminismo indígena é diferente, ele nasce com essa coletividade do território, da proteção da vida de todas as formas".
Samara também reforça o papel da sociedade como aliada na luta dos povos indígenas. Para ela, todos podem contribuir com ações concretas. "Pra quem não é indígena e quer ajudar, é necessário trazer essa reflexão: 'O que eu posso fazer hoje para ajudar a proteger?'. Proteger os defensores! Os indígenas são os defensores dessa luta, da floresta. Essa luta é de todos que querem ajudar e que querem que o planeta continue existindo, continue vivo. Escutar, apoiar, votar com consciência - isso importa muito. Faz muita diferença. Que o Dia dos Povos Indígenas não seja só lembrado, mas vivido. Porque enquanto houver floresta, a gente vai continuar cantando, resistindo com a nossa arte, a nossa cultura. Enquanto houver indígenas, eu vejo que haverá esperança".
Ao final, Samara compartilha o que considera o verdadeiro sentido do Dia dos Povos Indígenas. "É uma chamada de responsabilidade. Não é um folclore que foi escolhido pelo país. É pra ser um dia de respeito, de escuta das nossas pautas, que amplifique nossas vozes, que caminhe junto. Uma coisa que eu gosto muito de dizer é: quando um indígena resiste, o mundo respira. Então, a nossa resistência é a solução pra gente continuar respirando".
https://vogue.globo.com/vogue-negocios/noticia/2025/04/quando-um-indigena-resiste-o-mundo-respira-a-moda-a-arte-e-a-luta-por-territorio-segundo-samara-borari.ghtml
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