De Povos Indígenas no Brasil
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Mulheres e turismo sustentam economia em aldeia kayapó
22/07/2025
Fonte: Valor Econômico - https://valor.globo.com/
Mulheres e turismo sustentam economia em aldeia kayapó
Aldeia foi a primeira beneficiada por um projeto de energia solar
22/07/2025
Naira Bertão
A floresta amazônica abriga não apenas árvores centenárias e uma rica biodiversidade, mas também comunidades que, há gerações, vivem em harmonia e mutualismo com o território. Uma delas é a aldeia Pykany, localizada na Terra Indígena Menkragnoti, na bacia do Xingu, no sudoeste do Pará, região marcada pelo avanço do desmatamento com a pressão da agropecuária, extração madeireira e garimpo. Habitada por cerca de 125 pessoas do povo kayapó (Mebêngôkre), Pykany se tornou um símbolo de desenvolvimento sustentável, conservação ambiental e protagonismo feminino.
Desde 2006, o Projeto Menire (coletivo de mulheres em kayapó) busca valorizar o trabalho das mulheres da aldeia pela venda de artesanatos com miçangas e palha trançada e de pinturas corporais aplicadas em telas, tecidos, calçados, camisetas, bolsas e outros itens. Mais recentemente, o turismo de base comunitária tem ganhado relevância por ser não apenas uma fonte de renda, mas também um meio de mostrar a pessoas de fora a força das tradições indígenas e suas necessidades.
"Quando o turista vem, a gente recebe eles, mostra nossa roça, faz trilha, serve café da manhã com banana, batata, abacaxi, cana. À noite, tem festa ao redor da fogueira. A gente dança, canta e conta história. Eles participam também. Isso é bom pra mostrar nossa tradição pros jovens e pros visitantes", relata Iretynh Kayapó, coordenadora do projeto Menire e uma das principais lideranças femininas da aldeia.
Em agosto, está prevista a ida de um grupo de 10 pessoas à aldeia para uma imersão na cultura kayapó, com banho de rio, pinturas corporais, alimentação ancestral, danças e rituais comandados pelas mulheres do projeto. "Nosso objetivo é desenvolver o território e gerar renda a partir dos saberes originários e da valorização da cultura kayapó", conta Marcelo Rosenbaum, fundador do instituto A Gente Transforma e hoje à frente da coordenação do Programa de Alternativas Econômicas Sustentáveis do projeto Menire.
Ele conta que a proposta de imersão na Aldeia Pykany começou a ser construída em 2019 por ele e Camila Barra, do Negócios Comunitários, seguindo o modelo de Turismo de Base Comunitária (TBC). A imersão é estruturada para mostrar aos visitantes o modo de viver kayapó através da sua alimentação, moradia e brincadeiras tradicionais conduzidas pelas Menire da Aldeia Pykany.
"Os projetos do Menire são construídos a partir da escuta das mulheres, sobre o que elas querem e o que acreditam que é possível fazer. A partir daí, e com a aprovação delas, fazemos experimentações", acrescenta Rosenbaum. Os visitantes são recebidos pelas mulheres, que organizam trilhas na floresta, apresentam os cultivos da roça, servem refeições típicas com frutas nativas, peixes e leite de castanha. À noite, há cantos, danças e contação de histórias ao redor da fogueira.
O turismo ajuda com o dinheiro, mas também a mostrar nossa cultura"
- Iretynh Kayapó
O turismo é visto como uma forma de sustento, mas também de resgate e valorização da cultura. "O turismo ajuda com o dinheiro, mas também ajuda a gente a mostrar nossa
cultura", afirma Iretynh Kayapó. Para ela, o envolvimento dos jovens no projeto é importante para fomentar o resgate das tradições. Para receber os turistas, a aldeia precisou de algumas adaptações de infraestrutura, como construção de alojamento para as redes e banheiros. Em 2023, foi feita uma primeira viagem, ainda como projeto piloto para testar o modelo e coletar aprendizados. Foi neste momento que Patricia Ellen, à frente da AYA Earth Partners e do recém-criado Instituto AYA, conheceu a região e se juntou à Rosenbaum e ao Instituto Kabu para trazer recursos para o desenvolvimento do território.
Criado em 2008 com o Menire como referência, o Instituto Kabu é uma das mais organizadas iniciativas indígenas de gestão territorial e geração de renda. A organização reúne 18 aldeias afiliadas nas Terras Indígenas Baú, Menkragnoti e Panará, no sul do Pará e norte do Mato Grosso e é responsável, entre outras funções, para levar as demandas dos kayapós para o setor público e privado, ao mesmo tempo em que desenvolve a economia local.
Doto Takak-ire, morador de Pykany e atual presidente do Kabu, conta que o dinheiro de projetos como os do Menire e o extrativismo da castanha do Brasil e do cumaru ajudam a comprar insumos que as aldeias precisam.
Contudo, ainda assim, não são recursos suficientes para fazer frente aos desafios logísticos de se manter postos de saúde e escolas equipadas com profissionais o ano todo, levar energia intermitente e internet para melhorar a comunicação, os acessos e a qualidade de vida.
O turismo do Menire, além da permanência do saber tradicional, é um projeto estratégico para conectar pessoas-chave aos kayapós e ajudar nessas demandas locais. Foi a partir dele que a aldeia Pykany agora é abastecida por energia solar. Ela foi a primeira aldeia do projeto Conexão Kayapó Comunidades, que visa levar esta fonte renovável e mais barata para territórios indígenas da região conhecida como Arco do Desmatamento. O projeto é fruto de uma parceria da empresa de soluções energéticas Comerc, do Instituto AYA, do Instituto A Gente Transforma e do Instituto Kabu.
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2025/07/22/mulheres-e-turismo-sustentam-economia-em-aldeia-kayapo.ghtml
Aldeia foi a primeira beneficiada por um projeto de energia solar
22/07/2025
Naira Bertão
A floresta amazônica abriga não apenas árvores centenárias e uma rica biodiversidade, mas também comunidades que, há gerações, vivem em harmonia e mutualismo com o território. Uma delas é a aldeia Pykany, localizada na Terra Indígena Menkragnoti, na bacia do Xingu, no sudoeste do Pará, região marcada pelo avanço do desmatamento com a pressão da agropecuária, extração madeireira e garimpo. Habitada por cerca de 125 pessoas do povo kayapó (Mebêngôkre), Pykany se tornou um símbolo de desenvolvimento sustentável, conservação ambiental e protagonismo feminino.
Desde 2006, o Projeto Menire (coletivo de mulheres em kayapó) busca valorizar o trabalho das mulheres da aldeia pela venda de artesanatos com miçangas e palha trançada e de pinturas corporais aplicadas em telas, tecidos, calçados, camisetas, bolsas e outros itens. Mais recentemente, o turismo de base comunitária tem ganhado relevância por ser não apenas uma fonte de renda, mas também um meio de mostrar a pessoas de fora a força das tradições indígenas e suas necessidades.
"Quando o turista vem, a gente recebe eles, mostra nossa roça, faz trilha, serve café da manhã com banana, batata, abacaxi, cana. À noite, tem festa ao redor da fogueira. A gente dança, canta e conta história. Eles participam também. Isso é bom pra mostrar nossa tradição pros jovens e pros visitantes", relata Iretynh Kayapó, coordenadora do projeto Menire e uma das principais lideranças femininas da aldeia.
Em agosto, está prevista a ida de um grupo de 10 pessoas à aldeia para uma imersão na cultura kayapó, com banho de rio, pinturas corporais, alimentação ancestral, danças e rituais comandados pelas mulheres do projeto. "Nosso objetivo é desenvolver o território e gerar renda a partir dos saberes originários e da valorização da cultura kayapó", conta Marcelo Rosenbaum, fundador do instituto A Gente Transforma e hoje à frente da coordenação do Programa de Alternativas Econômicas Sustentáveis do projeto Menire.
Ele conta que a proposta de imersão na Aldeia Pykany começou a ser construída em 2019 por ele e Camila Barra, do Negócios Comunitários, seguindo o modelo de Turismo de Base Comunitária (TBC). A imersão é estruturada para mostrar aos visitantes o modo de viver kayapó através da sua alimentação, moradia e brincadeiras tradicionais conduzidas pelas Menire da Aldeia Pykany.
"Os projetos do Menire são construídos a partir da escuta das mulheres, sobre o que elas querem e o que acreditam que é possível fazer. A partir daí, e com a aprovação delas, fazemos experimentações", acrescenta Rosenbaum. Os visitantes são recebidos pelas mulheres, que organizam trilhas na floresta, apresentam os cultivos da roça, servem refeições típicas com frutas nativas, peixes e leite de castanha. À noite, há cantos, danças e contação de histórias ao redor da fogueira.
O turismo ajuda com o dinheiro, mas também a mostrar nossa cultura"
- Iretynh Kayapó
O turismo é visto como uma forma de sustento, mas também de resgate e valorização da cultura. "O turismo ajuda com o dinheiro, mas também ajuda a gente a mostrar nossa
cultura", afirma Iretynh Kayapó. Para ela, o envolvimento dos jovens no projeto é importante para fomentar o resgate das tradições. Para receber os turistas, a aldeia precisou de algumas adaptações de infraestrutura, como construção de alojamento para as redes e banheiros. Em 2023, foi feita uma primeira viagem, ainda como projeto piloto para testar o modelo e coletar aprendizados. Foi neste momento que Patricia Ellen, à frente da AYA Earth Partners e do recém-criado Instituto AYA, conheceu a região e se juntou à Rosenbaum e ao Instituto Kabu para trazer recursos para o desenvolvimento do território.
Criado em 2008 com o Menire como referência, o Instituto Kabu é uma das mais organizadas iniciativas indígenas de gestão territorial e geração de renda. A organização reúne 18 aldeias afiliadas nas Terras Indígenas Baú, Menkragnoti e Panará, no sul do Pará e norte do Mato Grosso e é responsável, entre outras funções, para levar as demandas dos kayapós para o setor público e privado, ao mesmo tempo em que desenvolve a economia local.
Doto Takak-ire, morador de Pykany e atual presidente do Kabu, conta que o dinheiro de projetos como os do Menire e o extrativismo da castanha do Brasil e do cumaru ajudam a comprar insumos que as aldeias precisam.
Contudo, ainda assim, não são recursos suficientes para fazer frente aos desafios logísticos de se manter postos de saúde e escolas equipadas com profissionais o ano todo, levar energia intermitente e internet para melhorar a comunicação, os acessos e a qualidade de vida.
O turismo do Menire, além da permanência do saber tradicional, é um projeto estratégico para conectar pessoas-chave aos kayapós e ajudar nessas demandas locais. Foi a partir dele que a aldeia Pykany agora é abastecida por energia solar. Ela foi a primeira aldeia do projeto Conexão Kayapó Comunidades, que visa levar esta fonte renovável e mais barata para territórios indígenas da região conhecida como Arco do Desmatamento. O projeto é fruto de uma parceria da empresa de soluções energéticas Comerc, do Instituto AYA, do Instituto A Gente Transforma e do Instituto Kabu.
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2025/07/22/mulheres-e-turismo-sustentam-economia-em-aldeia-kayapo.ghtml
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