De Povos Indígenas no Brasil

Notícias

Hortas comunitárias: além de alimentos, ação concreta de enfrentamento às ameaças ao território Apurinã no Amazonas

21/08/2025

Autor: Por Daniel dos Santos Lima, Cimi Regional Norte I, Equipe Lábrea

Fonte: Cimi - https://cimi.org.br



Entre 7 de julho e 7 de agosto de 2025, mulheres e jovens indígenas das aldeias Ilha da Índia, na Terra Indígena (TI) Apurinã do Igarapé Mucuim, e Morada Nova, na TI Acimã, viveram um tempo de união, trabalho coletivo e esperança. Durante esse período, foi executado o projeto Plantando Esperança, realizado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Norte I, Equipe Lábrea.

A iniciativa nasceu em resposta a um cenário cada vez mais difícil para as comunidades do Polo Tumiã. A seca severa dos rios e a consequente escassez de alimentos têm afetado diretamente a saúde, a mobilidade e o modo de vida nos territórios. Somam-se a isso outros desafios, como o custo elevado do transporte, a dificuldade de acesso a merenda escolar saudável, a necessidade urgente de fortalecer a autonomia das mulheres e criar alternativas positivas para a juventude.

Diante desse cenário ameaçador, a atividade de produção de alimentos de forma orgânica é assumida como importante caminho de sustentabilidade para a comunidade.

Para os jovens, que enfrentam ameaças externas, como o uso abusivo de bebidas alcoólicas, o cultivo de hortaliças se apresenta como uma ação concreta para o enfrentamento dessas ameaças.

"Eu vejo que, com essa horta, vai ter mais alimento nutritivo na aldeia. A comida vai ficar mais gostosa e também vai ajudar quando faltar tempero, principalmente em festas ou eventos na comunidade. Os jovens participaram bastante do projeto. Seria bom fazer mais atividades assim, que envolvam não só os jovens da Aldeia Morada Nova, mas também os do Polo Base Tumiã, que têm problema com alcoolismo", destaca Jairison Rodrigues Cabral Apurinã, liderança jovem da Aldeia Morada Nova.

Mutirão, sementes e novas possibilidades

Com a proposta de enfrentar esses desafios de forma prática, concreta e coletiva, o projeto apoiou a construção de hortas comunitárias nas duas aldeias em regime de mutirão. Mulheres, jovens e a equipe do Cimi trabalharam juntos, unindo força, conhecimento tradicional e novas técnicas para o cultivo.

Os canteiros receberam sementes de cebolinha, tomate, pimenta de cheiro, coentro, couve e chicória, além de mudas de frutíferas como açaí. Também foram fornecidos insumos, ferramentas e materiais necessários para proteger e cuidar das hortas. Todo o planejamento foi feito em diálogo com as comunidades, respeitando a cultura e as preferências alimentares locais.

"É bom ter verdura para temperar nossa comida. E essas verduras e ervas não é só para tempero não, também serve para curar alguns tipos de doença"

Mais do que alimento

O Plantando Esperança não se limitou à produção de hortaliças e frutas. Ele se tornou também um espaço de fortalecimento de laços comunitários e de estímulo ao protagonismo feminino e juvenil.

"Eu aprendi muito. Eu não sabia plantar semente, nem fazer horta. Achei muito bom ter essa experiência nova. Eu digo para as outras mulheres fazer também uma horta assim, na comunidade ou na casa delas. É bom ter verdura para temperar nossa comida. E essas verduras e ervas não é só para tempero não, também serve para curar alguns tipos de doença", afirma Maria Decilene Lopes de Souza Apurinã, do coletivo de Mulheres Sytuwakuru.

Esse sentimento é compartilhado por Dalzira Cabral Brasil Apurinã, liderança do mesmo coletivo na aldeia Morada Nova: "Esse trabalho que nós fizemos aqui, com o grupo das mulheres Sytuwakuru e com o grupo dos jovens Amaruwakuru, era o que nós queríamos. Nós, como indígenas, gostamos muito desse tipo de trabalho. Gostamos de tudo que foi feito, tanto com as mulheres como com os jovens. Aqui na aldeia, nunca nós tivemos esse plantio, esses canteiros", contou Dalzira, com esperanças.

"O momento mais marcante foi na hora dos trabalhos, com jovens e mulheres conversando, rindo e numa alegria total. Como comunidade, a gente fica feliz de ver os jovens trabalhando. Isso é muito bom"

Juventude ativa

O envolvimento da juventude foi um dos pontos mais marcantes da atividade. Trabalho conjunto, ajuda mútua e alegria é o que destaca a jovem Natalina de Souza Brasil Apurinã, da aldeia Morada Nova.

"Eu vi que os jovens estavam bem ativos. É muito bom ter momento assim, onde eles participam e se sentem à vontade nas atividades, e ainda aprendem coisas novas. O momento mais marcante foi na hora dos trabalhos, com jovens e mulheres conversando, rindo e numa alegria total. Como comunidade, a gente fica feliz de ver os jovens trabalhando. Isso é muito bom", declara Natalina.

Para Antônio Charles Cabral do Nascimento Apurinã, liderança do grupo de jovens da aldeia Morada Nova, a experiência foi transformadora: "para mim, participar da horta comunitária foi muito legal, junto com o Cimi e a comunidade. O que mais me motivou foi aprender como construir uma horta".

As sementes já começaram a germinar e a expectativa é que nas próximas semanas as primeiras hortaliças estejam prontas para o consumo. Quando plenamente produtivas, as hortas contribuirão para melhorar a alimentação das famílias e oferecer merenda escolar mais nutritiva às crianças

Resultados e desafios

As sementes já começaram a germinar e a expectativa é que nas próximas semanas as primeiras hortaliças estejam prontas para o consumo. Quando plenamente produtivas, as hortas contribuirão para melhorar a alimentação das famílias e oferecer merenda escolar mais nutritiva às crianças.

Na avaliação do missionário e coordenador da equipe do Cimi em Lábrea, Queóps Melo, o projeto é bom e a atividade obteve resultados positivos, consequentes da ação conjunta e do enfrentamento coletivo dos desafios.

"Esse projeto foi muito bom, principalmente pela adesão dos indígenas à proposta. Tivemos alguns desafios, como o acesso às aldeias durante o período de execução, que dificultou o transporte de materiais, mudas e outras coisas. Também enfrentamos a grande quantidade de saúvas nos territórios, e por isso optamos por fazer canteiros suspensos, que facilitam o controle desses insetos. Acho que os desafios foram superados pelos aprendizados, principalmente no que diz respeito à organização interna das aldeias", avaliou o missionário.

"É muito bom ver o protagonismo das mulheres indígenas, porque isso mostra empoderamento e fortalecimento dos seus territórios. Elas têm um papel fundamental na preservação da cultura e no cuidado com a mãe terra"

Esperança cultivada

A experiência também marcou os membros da equipe. Para Kauê Nascimento, novo missionário da equipe, a experiência ensinou valores coletivos e fortaleceu o princípio da união.

"Como membro mais jovem da equipe, participar da construção das hortas comunitárias junto com as mulheres e os jovens das aldeias foi uma experiência que mudou muito para mim. O que mais me marcou foi a força e a sabedoria que vi em cada pessoa. Essa união me fez ver que, não importa a idade, colaboração e respeito são a base para alcançar os objetivos", avaliou Kauê.

Para a missionária Áila Santos ver as mulheres indígenas à frente desse trabalho é inspirador. "É muito bom ver o protagonismo das mulheres indígenas, porque isso mostra empoderamento e fortalecimento dos seus territórios. Elas têm um papel fundamental na preservação da cultura e no cuidado com a mãe terra", afirmou.

Para a equipe do Cimi Lábrea, o projeto Plantando Esperança é mais do que um projeto, é um passo concreto para enfrentar a fome, o isolamento e a insegurança alimentar. Ele renova o compromisso com a vida e com a força das mulheres e dos jovens indígenas que cuidam de suas famílias e territórios.

https://cimi.org.br/2025/08/hortas-comunitarias-apurina-am/
 

As notícias publicadas no site Povos Indígenas no Brasil são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos .Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.