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O desmatamento mata

01/09/2025

Autor: Jonathan Watts , Rio Xingu, Altamira, Amazônia

Fonte: Sumauma - https://sumauma.com



O desmatamento mata. Não apenas árvores, insetos, pássaros, Macacos e outros animais selvagens que morrem sob motosserras ou incêndios, mas também moradores humanos locais, que sofrem com um aumento acentuado da exposição ao calor quando a cobertura refrescante da Floresta - a copa das árvores - é removida.

Pela primeira vez sabemos quão mortal isso tudo pode ser: um novo e pioneiro estudo estima que mais de meio milhão de pessoas tenham perdido a vida nos trópicos nas últimas duas décadas como resultado de doenças relacionadas ao calor e ao desmatamento.

SUMAÚMA sempre destacou o fato de que o desmatamento não é apenas uma questão imobiliária para liberar hectares de terra; é a morte. Em 2022, revelamos a estimativa de que pelo menos 2 bilhões de árvores foram destruídas ou afetadas por incêndios ou desmatamento na Amazônia durante a Presidência de Jair Bolsonaro, junto com mais de 1 milhão de Macacos, além de cerca de 80 milhões de aves que perderam ninhos ou habitats.

Agora, uma equipe de cientistas do Brasil, de Gana e do Reino Unido calculou quantos seres humanos estão morrendo na Amazônia, no Congo e no Sudeste Asiático porque o desmatamento está reduzindo a sombra, diminuindo as chuvas, aumentando o risco de incêndio e elevando as temperaturas.

O estudo demonstrou que o desmatamento é responsável por mais de um terço do aquecimento vivenciado pelas pessoas que moram nas regiões atingidas. Esse efeito local é somado ao aquecimento causado pela perturbação climática global.

Cerca de 345 milhões de pessoas nos trópicos sofreram com o aquecimento localizado e causado pelo desmatamento entre 2001 e 2020. Para 2,6 milhões delas, o aquecimento adicional acrescentou 3 graus Celsius à exposição regular ao calor.

Em muitos casos, isso foi fatal. Os pesquisadores estimaram que o aquecimento devido ao desmatamento foi responsável por 28.330 mortes por ano durante esse período de 20 anos. Mais da metade das vítimas viviam no Sudeste Asiático, local que abriga populações maiores em áreas com vulnerabilidade ao calor. Cerca de um terço estava na África tropical, e o restante na América Central e do Sul.

O número é um alarme para as populações locais em áreas desmatadas, especialmente aquelas que trabalham ao ar livre e estão mais expostas ao sol. Esse sinal deveria levar os governos do Brasil e de outros países tropicais a redobrar seus esforços para deter a destruição da Amazônia e de outras florestas no Congo e no Sudeste Asiático - não apenas por razões ambientais ou climáticas globais, mas porque é essencial para a saúde e segurança de suas populações nas áreas afetadas.

Mesmo os grupos do agronegócio devem prestar atenção ao tema. O agro até pode acumular lucros enormes com a conversão de florestas biodiversas em monoculturas agrícolas, mas os agricultores também estão sentindo o calor. As culturas e os animais de criação sofrem com secas cada vez mais intensas e prolongadas. As famílias sentem o estresse sempre que se aventuram em ambientes e carros sem ar-condicionado.

E, é claro, a questão precisa ser abordada na COP30, em Belém, para mostrar que proteger as florestas não é apenas um tema para os grupos climáticos globais, mas uma questão de vida ou morte para as pessoas no chão.

No entanto, muitos itens existenciais, como a eliminação gradual dos combustíveis fósseis, não estão na agenda da conferência sobre o clima, relata Claudia Antunes nesta edição. Outra reportagem importante questiona a ideia enganosa de que a tecnologia pode ajudar o planeta a retornar a uma condição mais estável mesmo que o aquecimento supere o 1,5 grau Celsiusestabelecido como seguro pelo Acordo Climático de Paris.

Há também resistência. Uma forte reação da sociedade civil contra o chamado Projeto de Lei de Devastação aprovado pelo Congresso levou o presidente Lula a vetar algumas de suas ações mais controversas que iriam enfraquecer o licenciamento ambiental no Brasil, embora outras tenham escapado, como analisa Malu Delgado.

A vida em uma Floresta ameaçada é precária. Assim como o calor crescente e o prolongamento das estações secas. A violência nunca está longe, como mostra Catarina Barbosa em sua investigação sobre o assassinato de Ronilson Santos em Anapu. Já Wajã Xipai escreve um testemunho incrivelmente belo e triste de como é difícil para um jovem indígena se mudar da Floresta para o município de concreto de Altamira, que ele descreve como uma cidade em guerra contra suas poucas árvores sobreviventes.

Se você tiver de escolher apenas uma leitura nesta semana, mergulhe nesse relato e veja como Wajã se identifica com uma Mariposa (e até se metamorfoseia nela), atraída por luz artificial e depois pisoteada. Além de ser excepcionalmente comovente e bem escrito, é um lembrete, que se mostra necessário, de que o desmatamento mata.

https://sumauma.com/o-desmatamento-mata/
 

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