De Povos Indígenas no Brasil

Notícias

Funai e Governo da Paraíba garantem participação de indígenas Potiguara em encontro nacional sobre línguas indígenas

11/09/2025

Fonte: Funai - https://www.gov.br



Entre os mais de 300 participantes de diferentes povos indígenas e regiões do Brasil que estiveram no II Encontro Nacional para a Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032), participaram cinco representantes do povo Potiguara, do estado da Paraíba. O evento foi realizado entre 26 e 30 de agosto, na Terra Indígena (TI) Buriti, em Dois Irmãos do Buriti, no estado de Mato Grosso do Sul.

Para promover a diversidade cultural e a defesa dos direitos linguísticos dos povos indígenas, o evento contou com o apoio e participação da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), por meio da Coordenação de Processos Educativos e Culturais (CGPec), vinculada à Diretoria de Direitos Humanos e Políticas Sociais (DHPS) da Funai.

As atividades foram apoiadas pela Funai via Termo de Execução Descentralizada (TED) com a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), garantindo transporte de lideranças de diferentes regiões do país, além de suporte técnico e logístico, fornecido através das Coordenações Regionais (CRs) de Campo Grande e Dourados. No caso dos representantes da Paraíba, a viabilização do deslocamento para Mato Grosso do Sul contou com o apoio do Governo do Estado da Paraíba. A articulação aconteceu por meio da Coordenação Regional da Funai em João Pessoa (CR-JPA) e a Secretaria de Estado da Mulher e da Diversidade Humana (SEMDH).

Com o tema "No chão do território, a língua espírito refloresta mentes", o evento reuniu lideranças indígenas, linguistas, professores e autoridades com o objetivo de tratar de políticas das línguas indígenas no Brasil e propor diretrizes para ações de fortalecimento, retomada, valorização e revitalização linguística.

Apoio logístico
A jornada da delegação Potiguara até a Aldeia Buriti, em Dois Irmãos do Buriti, percorreu aproximadamente 3 mil quilômetros de distância em relação ao território Potiguara, localizado no litoral norte da Paraíba. Para o chefe do Serviço de Promoção dos Direitos Sociais e Cidadania (Sedisc), da CR-JPA, Wdson Fernandes, a presença dos representantes Potiguara no evento é um marco para os indígenas e fortalece o caminho de valorização e reconhecimento das línguas indígenas no Brasil, principalmente considerando os desafios logísticos para sair das aldeias.

"Esse contexto reforça a importância do apoio institucional, sem o qual seria inviável a presença dos povos indígenas nordestinos em eventos nacionais dessa magnitude. Garantir esse suporte significa possibilitar que esses povos compartilhem seus trabalhos, fortaleçam seus processos de valorização cultural e realizem um verdadeiro intercâmbio linguístico e espiritual com outros povos indígenas do Brasil", explica.

Wdson Fernandes ressaltou a importância da parceria com o Governo da Paraíba, por meio da SEMDH, e o trabalho desenvolvido pela Funai no estado para ampliar a presença indígena em mais eventos que promovem os seus direitos. "Seguimos trabalhando para fortalecer a articulação interinstitucional com o Estado e os municípios, pois a política indigenista é uma política de Estado e deve ser assumida como tal por todos os entes federativos."

Ainda segundo o chefe do Sedisc da CR João Pessoa, o apoio institucional à participação indígena em espaços como o II Encontro Nacional da DILI é fundamental para garantir o direito de representação e de voz dos povos indígenas em processos de decisão e formulação de políticas linguísticas; fortalecer a autoestima cultural e linguística dos povos, criando pontes entre comunidades e instituições; favorecer o intercâmbio de experiências entre diferentes povos e regiões, ampliando a circulação de saberes e práticas de revitalização linguística; e tornar visíveis as iniciativas locais, como as experiências educacionais realizadas entre os Potiguara, da Paraíba.

Participação indígena
A delegação da Paraíba foi composta pelos indígenas Isaias Marculino da Silva, da Aldeia Lagoa do Mato, Mateus Tosangusu, da Aldeia Monte Mor, Danilo Soares Crispim, da Aldeia Monte Mor, Thayna Bernardo Silva, da Aldeia Jacaré de César e José Romildo Araújo da Silva, da Aldeia Três Rios. Os representantes apresentaram iniciativas locais de valorização da língua Tupi Potiguara e reforçaram o compromisso da comunidade com a preservação de sua identidade cultural.

O professor de língua Tupi, Isaias Marculino da Silva, também conhecido como pajé Isaías Guarapirá Potiguara destacou que a experiência foi transformadora, ressaltando tanto o aprendizado cultural quanto a dimensão espiritual vivenciada. "Participar deste encontro foi uma experiência enriquecedora, que tocou não apenas nossa mente, mas também nosso espírito. Caminhar pelo território Terena, ser acolhido e reconhecido por essa comunidade foi um presente ancestral, que reforçou nossa conexão com nossos próprios ancestrais e com a força espiritual do nosso povo", enfatiza.

Segundo Isaías, as rodas de conversa, os rituais e os encontros de partilha reconheceram a importância de honrar a cultura, a língua e o caminho espiritual. "Saímos fortalecidos e com a certeza de que a luta pela preservação da língua Tupi Potiguara não é apenas cultural, mas também espiritual, e que nossos passos seguem guiados pela força ancestral que nos acompanha e protege", destaca.

Para Mateus Tosangusu Potiguara, professor da língua Tupi Potiguara, da Aldeia Monte Mor, o encontro foi de suma importância para os indígenas, proporcionando uma profunda reflexão sobre a temática e um valioso intercâmbio de experiências com outras comunidades. "Essa troca de conhecimentos nos trouxe insights cruciais para o desenvolvimento de novas iniciativas em nossa própria comunidade, configurando-se, de fato, como uma experiência marcante", ressalta.

De acordo com o professor, a oportunidade de debater as línguas indígenas, participar ativamente das discussões e propostas e representar o povo Potiguara foi um privilégio. "A acolhida que recebemos superou todas as expectativas. Formamos uma nova família naquele povo e nos sentimos verdadeiramente em casa, tamanha a amabilidade demonstrada. Expressamos nossa profunda gratidão à Funai por todo o apoio, essencial para a concretização desta experiência enriquecedora", reforça.

Danilo Soares Crispim, professor da língua Tupi na aldeia Monte-Mor, ressaltou a importância de dar continuidade às ações. "A ação nos proporcionou debates culturais e linguísticos de grande relevância, que contribuíram para amadurecer nossas ideias na produção de materiais didáticos e refinar nosso senso crítico em relação ao ensino e à aprendizagem das línguas indígenas, tanto orais quanto de sinais. Além disso, a imersão cultural no território Terena foi uma experiência profundamente humanística e essencial para nossas vidas."

Outra representante indígena foi Thayna Bernardo Silva, graduanda em pedagogia e antropologia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e professora de língua Tupi. Ela também ressaltou que as discussões contribuíram para ampliar o senso crítico sobre o ensino das línguas indígenas. "Vivenciamos uma experiência única e essencial que uniu aprendizado acadêmico, crescimento humano e valorização cultural. Sem os recursos disponibilizados, não teríamos tido essa oportunidade que hoje levamos para nosso povo e para nossas próprias vidas".

Gramática Tupi Potiguara
Um dos destaques das ações voltadas à valorização da língua foi o livro "Tupi Potiguara Kuapa: Conhecendo a Língua Tupi Potiguara", escrito por professores indígenas Potiguara da Paraíba, e lançado em 2024. A obra apresenta uma gramática da língua Tupi Potiguara e traz elementos fundamentais da cultura, como histórias, tradições das aldeias e trajetórias das lideranças do povo. O livro pode ser acessado neste link.

O organizador e um dos autores foi o indígena José Romildo da Silva, conhecido como Guyraakanga Potiguara. Ele compartilhou com os participantes sua experiência na produção do livro. Ao retornar à Paraíba, ele expressou a esperança de que a união entre pessoas e instituições continue a fortalecer a língua Tupi Potiguara e deseja que as línguas indígenas recebam mais reconhecimento e apoio do Estado brasileiro, especialmente para a valorização dos professores de línguas indígenas e para a produção e distribuição de materiais didáticos nessas línguas.

A Funai, por meio da CR João Pessoa, está articulando a impressão da obra para ampla distribuição nas comunidades e escolas indígenas, de modo a contribuir para a valorização da língua e para a educação intercultural.

Década Internacional das Línguas Indígenas
A Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou o período entre 2022 e 2032 como a Década Internacional das Línguas Indígenas (DILI 2022-2032) para chamar a atenção global para a situação crítica de muitas línguas indígenas e mobilizar partes interessadas e recursos para sua preservação, revitalização e promoção. A proclamação da DILI ocorreu em 2019 e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) lidera os esforços globais.

No Brasil, os povos indígenas se mobilizaram para a implementação de ações voltadas para a DILI, o que resultou na elaboração de um Plano de Ação Decenal em 2021, o qual estabelece um compromisso coletivo com a valorização das línguas indígenas no país.

Em abril deste ano, a Funai disponibilizou às suas unidades regionais quatro cartilhas lançadas pelo Grupo de Trabalho (GT) Nacional da DILI e o Ministério dos Povos Indígenas (MPI). As cartilhas trazem os temas da co-oficialização de línguas, línguas indígenas de sinais, Braslind (português indígena) e a constituição do GT Nacional da DILI.

As publicações foram disponibilizadas no site da Funai com o fim de qualificar as demandas relacionadas às línguas indígenas no país. Saiba mais

https://www.gov.br/funai/pt-br/assuntos/noticias/2025/funai-e-governo-da-paraiba-garantem-participacao-de-indigenas-potiguara-em-encontro-nacional-sobre-linguas-indigenas
 

As notícias publicadas no site Povos Indígenas no Brasil são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos .Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.