De Povos Indígenas no Brasil

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Sem cerrado, não há amazônia

15/09/2025

Autor: LIMA, Angelita Regiota; NAVES, Rozana regiota; CARVALHO, Carlos Henrique

Fonte: FSP - https://www1.folha.uol.com.br/



Sem cerrado, não há amazônia
COP30 é a chance de reconhecer a interdependência entre os biomas e criar o Instituto Nacional do Cerrado; ameaças e oportunidades são evidentes

15/09/2025

Angelita Pereira de Lima
Reitora da Universidade Federal de Goiás (UFG)

Rozana Reigota Naves
Reitora da Universidade de Brasília (UnB)

Carlos Henrique de Carvalho
Reitor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU)

quando Belém receber a COP30, o mundo estará voltado para a amazônia. É justo que seja assim. Contudo, se restringirmos o debate apenas ao bioma amazônico, perderemos a oportunidade estratégica de pensarmos o Brasil em sua totalidade ecológica.

Não haverá amazônia sem cerrado -e sem uma visão integrada, não haverá liderança climática brasileira. Por isso, as universidades localizadas no cerrado defendem a criação do Instituto Nacional do Cerrado (INC), como unidade de pesquisa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

O cerrado é o berço das águas da América do Sul -de suas nascentes dependem as bacias Amazônica, do São Francisco, do Prata e do Tocantins-Araguaia. É a savana mais biodiversa do planeta e lar de povos indígenas, comunidades quilombolas, geraizeiras e ribeirinhas que há séculos manejam o bioma de forma sustentável. Ao mesmo tempo, é também o bioma mais pressionado do país: metade de sua área já foi convertida, apenas 8% estão protegidos e, em 2024, o desmatamento na região voltou a ser o maior entre os biomas brasileiros.

O cerrado e a amazônia são um contínuo ecológico, social e climático. A evapotranspiração amazônica alimenta os chamados "rios voadores", que garantem chuva no Centro-Oeste. O desmatamento, por sua vez, enfraquece esse mecanismo, afetando diretamente a agricultura e a disponibilidade hídrica. O balanço de carbono segue a mesma lógica: as emissões do cerrado já neutralizam parte da absorção da floresta amazônica. Ignorar essa interdependência é perder metade da história -e metade da solução.

As ameaças são evidentes; também o são as oportunidades. Estudos recentes mostram que os milhões de hectares de pastagens degradadas no cerrado são capazes de acomodar a expansão agrícola sem novos desmatamentos. A recuperação dessas áreas pode aumentar a produtividade e restaurar a vegetação. Além disso, programas de pagamento por serviços ambientais e o mercado regulado de carbono já em implantação criam um ambiente econômico favorável para remunerar quem conserva. O agronegócio pode e deve ser parte dessa virada.

A criação do INC, tendo por referência a articulação entre ciência e sociedade, irá orientar agendas de pesquisa sobre biodiversidade, água e clima; fomentar o desenvolvimento de tecnologias adequadas ao bioma; reduzir assimetrias sociais e regionais por meio da bioeconomia e da agroecologia; e apoiar a formulação de políticas públicas com base em evidências. Mais que uma defesa ambiental, trata-se de estratégia nacional: alinhar conservação, segurança alimentar, inovação e bem-estar coletivo.

A COP30 deve ser mais que uma conferência "sobre a amazônia". O Brasil pode, nessa oportunidade, mostrar ao mundo que é possível produzir mais e melhor, estabilizar o clima e proteger a sociobiodiversidade. Para isso, é fundamental reconhecer o óbvio: o futuro da amazônia depende do cerrado. E o futuro do cerrado depende de termos a ousadia política de criar o Instituto Nacional do Cerrado!

https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2025/09/sem-cerrado-nao-ha-amazonia.shtml
 

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