De Povos Indígenas no Brasil
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Caravana da Resposta parte de Sinop e conecta Cerrado e Amazônia contra o avanço da soja
06/11/2025
Fonte: Cimi - https://cimi.org.br
Movimentos sociais e povos indígenas iniciam jornada de mais de 3 mil quilômetros rumo à COP30, denunciando os impactos do agronegócio e promovendo agroecologia
De Sinop (MT), capital do agronegócio brasileiro, partiu nesta terça-feira (4) a Caravana da Resposta, uma mobilização que une movimentos sociais, povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e agricultores familiares em uma travessia terrestre e fluvial até Belém (PA), para a COP30. A mobilização percorre o chamado "corredor da soja", eixo logístico que liga o Cerrado mato-grossense à Amazônia, levando alimentos agroecológicos e denunciando o impacto dos portos, hidrovias, rodovias e do projeto da ferrovia Ferrogrão (EF-170).
Para Vivi Borari, comunicadora e ativista do Movimento Tapajós Vivo, do Baixo Tapajós (PA), a saída da Caravana de Sinop tem um peso simbólico profundo. "Estamos saindo do ponto onde a soja nasce para mostrar que o impacto não termina aqui. O que começa no Cerrado destrói rios e modos de vida até o Tapajós, onde as balsas carregam essa soja para a exportação", afirma. Segundo Vivi, a Ferrogrão e o sistema de hidrovias previsto no Arco Norte "ameaçam unir a destruição de dois biomas - Cerrado e Amazônia - em nome de um único modelo de economia que exclui os povos e contamina os rios".
"Ameaçam unir a destruição de dois biomas - Cerrado e Amazônia - em nome de um único modelo de economia que exclui os povos e contamina os rios"
Uma travessia que conecta lutas e territórios
Entre os que embarcam na Caravana em Sinop estão indígenas dos povos Myky, Kayabi, Kayapó, Huni Kuin e Panará. Montirenti Kayabi, da aldeia Sobradinho, no município de Feliz Natal (MT) na bacia do Xingu, é produtor de mel e leva consigo 130 litros de mel indígena Kayabi, que serão consumidos pela caravana e utilizados na Cozinha solidária da Cúpula dos Povos, durante a COP-30. "Nosso mel vem da floresta, mas milhões de abelhas morrem todos os anos com o veneno das plantações de soja e milho. A floresta que nos alimenta está sendo envenenada. Queremos mostrar que existe outro modelo de produção, com respeito à vida, às abelhas e ao território", relata.
Quando a Caravana passou por Peixoto de Azevedo (MT), embarcaram lideranças do povo Kayapó, do Instituto Raoni, reforçando o elo entre as lutas do Xingu e do Tapajós. "A expansão da soja já ameaça nossas terras, mas com a Ferrogrão, vão abrir mais caminho para o desmatamento e trazer mais portos e mais veneno. Os governos falam em logística verde, mas não existe economia sustentável quando o preço é o fim das florestas", destaca Ikrore Kayapó.
"A floresta que nos alimenta está sendo envenenada. Queremos mostrar que existe outro modelo de produção, com respeito à vida, às abelhas e ao território"
Em Guarantã do Norte (MT), se somaram representantes do povo Panará, cuja história de deslocamento forçado durante a abertura da rodovia BR-163 simboliza os efeitos da expansão do agronegócio na Amazônia. "Quando abriram a estrada, perdemos parte do nosso território e de nosso povo. Agora, querem passar a Ferrogrão pelo mesmo caminho, multiplicando os impactos e violência. É a repetição da mesma ferida. Estamos aqui para dizer que o progresso deles não é o nosso futuro", afirma Peranko Panará, da Associação Iakiô.
Já em Novo Progresso (PA), outro município marcado por conflitos agrários e desmatamento, representantes do Instituto Kabu se uniram à travessia. "Somos os guardiões do Xingu e do Tapajós. A floresta que o mundo inteiro diz querer salvar é a mesma onde nossos parentes estão morrendo de fome e de contaminação por agrotóxicos. Nossa resposta é caminhar juntos, mostrar que estamos vivos e resistindo", afirma Bepkyi Mekragnotire, liderança Kayapó do Kabu.
De acordo com levantamento do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), apenas entre 2010 e 2022, 68% dos recursos públicos destinados à infraestrutura de transportes na Amazônia foram aplicados em corredores de exportação - como a BR-163 e a rota Tapajós-Arco Norte. O resultado é a expansão acelerada da soja: 47% das exportações brasileiras já escoam pelos portos do Arco Norte, contra apenas 16% em 2010. "O que chamam de rota de grãos, é de injustiça social", resume Vivi Borari.
"O que chamam de rota de grãos, é de injustiça social"
Parada agroecológica e a força da comida sem veneno
Na manhã desta quarta (5), a Caravana fez uma parada em Trairão (PA) para um café da manhã coletivo preparado por agricultores locais. A Caravana recebeu alimentos agroecológicos produzidos pela Rede Agroecológica de Trairão, que alimentarão a Caravana no caminho até Belém. No local, agricultoras compartilharam as técnicas e estratégias para resistir à soja e produzir comida sem veneno.
"Enquanto o agronegócio envenena o solo, nós mostramos que é possível alimentar o povo com comida de verdade", afirma Francislourdes Silva, integrante da rede agroecológica. "O que vai para Belém não é só alimento, é símbolo de resistência: o feijão, a farinha e o mel que vêm das mãos de quem planta sem destruir."
"Enquanto o agronegócio envenena o solo, nós mostramos que é possível alimentar o povo com comida de verdade"
Rumo à Belém
A Caravana da Resposta, mobilização que reúne mais de 300 indígenas e movimentos sociais para denunciar impactos da expansão da soja nos biomas Cerrado e Amazônia, segue para o próximo ponto: a reserva indígena Praia do Mangue, em Itaituba (PA), território Munduruku ameaçado pela exportação da soja. Isso porque a soja produzida desde Sinop (MT), desembarca nos portos próximos às aldeias - construídos em flagrante violação da OIT 169, que garante aos povos tradicionais o direito à consulta livre, prévia e informada.
Estudos do Terra de Direitos mostram que dos portos públicos e privados analisados por meio do site da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas) e da Lei de Acesso à Informação (LAI), que dos 27 portos em operação em Santarém, Itaituba e Rurópolis, no oeste do Pará, apenas cinco possuem documentação completa do processo de licenciamento ambiental. Além disso, 16 possuem Licença de Operação sem apresentar Licença Prévia ou Licença de Instalação.
"Caravana da Resposta reúne mais de 300 indígenas e movimentos sociais para denunciar impactos da expansão da soja nos biomas Cerrado e Amazônia"
Os empreendimentos portuários nas margens do Rio Tapajós são projetados para o transporte de grãos do Centro-oeste do país. Além de impedir a pesca artesanal das populações tradicionais da região, resíduos de soja envenenada com agrotóxicos poluem os rios e matam os peixes, tornando-os cada vez mais raros. "Nossos rios estão morrendo. Nossos peixes estão se alimentando dessa soja cheia de veneno. Mas o rio é nosso! Não vamos deixar que a Ferrogrão e hidrovias o destrua", finaliza Alessandra Korap, líder indígena do povo Munduruku.
Após Itaituba (PA), a Caravana da Resposta segue o trajeto até o Território Tupinambá, próximo de Santarém (PA). A previsão de chegada em Belém, para a COP30, Cúpula dos Povos e COP do Povo, é dia 12 de novembro, quando centenas de barcos se encontram na Baía do Guajará para uma grande barqueata.
https://cimi.org.br/2025/11/caravana-da-resposta-cop30/
De Sinop (MT), capital do agronegócio brasileiro, partiu nesta terça-feira (4) a Caravana da Resposta, uma mobilização que une movimentos sociais, povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e agricultores familiares em uma travessia terrestre e fluvial até Belém (PA), para a COP30. A mobilização percorre o chamado "corredor da soja", eixo logístico que liga o Cerrado mato-grossense à Amazônia, levando alimentos agroecológicos e denunciando o impacto dos portos, hidrovias, rodovias e do projeto da ferrovia Ferrogrão (EF-170).
Para Vivi Borari, comunicadora e ativista do Movimento Tapajós Vivo, do Baixo Tapajós (PA), a saída da Caravana de Sinop tem um peso simbólico profundo. "Estamos saindo do ponto onde a soja nasce para mostrar que o impacto não termina aqui. O que começa no Cerrado destrói rios e modos de vida até o Tapajós, onde as balsas carregam essa soja para a exportação", afirma. Segundo Vivi, a Ferrogrão e o sistema de hidrovias previsto no Arco Norte "ameaçam unir a destruição de dois biomas - Cerrado e Amazônia - em nome de um único modelo de economia que exclui os povos e contamina os rios".
"Ameaçam unir a destruição de dois biomas - Cerrado e Amazônia - em nome de um único modelo de economia que exclui os povos e contamina os rios"
Uma travessia que conecta lutas e territórios
Entre os que embarcam na Caravana em Sinop estão indígenas dos povos Myky, Kayabi, Kayapó, Huni Kuin e Panará. Montirenti Kayabi, da aldeia Sobradinho, no município de Feliz Natal (MT) na bacia do Xingu, é produtor de mel e leva consigo 130 litros de mel indígena Kayabi, que serão consumidos pela caravana e utilizados na Cozinha solidária da Cúpula dos Povos, durante a COP-30. "Nosso mel vem da floresta, mas milhões de abelhas morrem todos os anos com o veneno das plantações de soja e milho. A floresta que nos alimenta está sendo envenenada. Queremos mostrar que existe outro modelo de produção, com respeito à vida, às abelhas e ao território", relata.
Quando a Caravana passou por Peixoto de Azevedo (MT), embarcaram lideranças do povo Kayapó, do Instituto Raoni, reforçando o elo entre as lutas do Xingu e do Tapajós. "A expansão da soja já ameaça nossas terras, mas com a Ferrogrão, vão abrir mais caminho para o desmatamento e trazer mais portos e mais veneno. Os governos falam em logística verde, mas não existe economia sustentável quando o preço é o fim das florestas", destaca Ikrore Kayapó.
"A floresta que nos alimenta está sendo envenenada. Queremos mostrar que existe outro modelo de produção, com respeito à vida, às abelhas e ao território"
Em Guarantã do Norte (MT), se somaram representantes do povo Panará, cuja história de deslocamento forçado durante a abertura da rodovia BR-163 simboliza os efeitos da expansão do agronegócio na Amazônia. "Quando abriram a estrada, perdemos parte do nosso território e de nosso povo. Agora, querem passar a Ferrogrão pelo mesmo caminho, multiplicando os impactos e violência. É a repetição da mesma ferida. Estamos aqui para dizer que o progresso deles não é o nosso futuro", afirma Peranko Panará, da Associação Iakiô.
Já em Novo Progresso (PA), outro município marcado por conflitos agrários e desmatamento, representantes do Instituto Kabu se uniram à travessia. "Somos os guardiões do Xingu e do Tapajós. A floresta que o mundo inteiro diz querer salvar é a mesma onde nossos parentes estão morrendo de fome e de contaminação por agrotóxicos. Nossa resposta é caminhar juntos, mostrar que estamos vivos e resistindo", afirma Bepkyi Mekragnotire, liderança Kayapó do Kabu.
De acordo com levantamento do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), apenas entre 2010 e 2022, 68% dos recursos públicos destinados à infraestrutura de transportes na Amazônia foram aplicados em corredores de exportação - como a BR-163 e a rota Tapajós-Arco Norte. O resultado é a expansão acelerada da soja: 47% das exportações brasileiras já escoam pelos portos do Arco Norte, contra apenas 16% em 2010. "O que chamam de rota de grãos, é de injustiça social", resume Vivi Borari.
"O que chamam de rota de grãos, é de injustiça social"
Parada agroecológica e a força da comida sem veneno
Na manhã desta quarta (5), a Caravana fez uma parada em Trairão (PA) para um café da manhã coletivo preparado por agricultores locais. A Caravana recebeu alimentos agroecológicos produzidos pela Rede Agroecológica de Trairão, que alimentarão a Caravana no caminho até Belém. No local, agricultoras compartilharam as técnicas e estratégias para resistir à soja e produzir comida sem veneno.
"Enquanto o agronegócio envenena o solo, nós mostramos que é possível alimentar o povo com comida de verdade", afirma Francislourdes Silva, integrante da rede agroecológica. "O que vai para Belém não é só alimento, é símbolo de resistência: o feijão, a farinha e o mel que vêm das mãos de quem planta sem destruir."
"Enquanto o agronegócio envenena o solo, nós mostramos que é possível alimentar o povo com comida de verdade"
Rumo à Belém
A Caravana da Resposta, mobilização que reúne mais de 300 indígenas e movimentos sociais para denunciar impactos da expansão da soja nos biomas Cerrado e Amazônia, segue para o próximo ponto: a reserva indígena Praia do Mangue, em Itaituba (PA), território Munduruku ameaçado pela exportação da soja. Isso porque a soja produzida desde Sinop (MT), desembarca nos portos próximos às aldeias - construídos em flagrante violação da OIT 169, que garante aos povos tradicionais o direito à consulta livre, prévia e informada.
Estudos do Terra de Direitos mostram que dos portos públicos e privados analisados por meio do site da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas) e da Lei de Acesso à Informação (LAI), que dos 27 portos em operação em Santarém, Itaituba e Rurópolis, no oeste do Pará, apenas cinco possuem documentação completa do processo de licenciamento ambiental. Além disso, 16 possuem Licença de Operação sem apresentar Licença Prévia ou Licença de Instalação.
"Caravana da Resposta reúne mais de 300 indígenas e movimentos sociais para denunciar impactos da expansão da soja nos biomas Cerrado e Amazônia"
Os empreendimentos portuários nas margens do Rio Tapajós são projetados para o transporte de grãos do Centro-oeste do país. Além de impedir a pesca artesanal das populações tradicionais da região, resíduos de soja envenenada com agrotóxicos poluem os rios e matam os peixes, tornando-os cada vez mais raros. "Nossos rios estão morrendo. Nossos peixes estão se alimentando dessa soja cheia de veneno. Mas o rio é nosso! Não vamos deixar que a Ferrogrão e hidrovias o destrua", finaliza Alessandra Korap, líder indígena do povo Munduruku.
Após Itaituba (PA), a Caravana da Resposta segue o trajeto até o Território Tupinambá, próximo de Santarém (PA). A previsão de chegada em Belém, para a COP30, Cúpula dos Povos e COP do Povo, é dia 12 de novembro, quando centenas de barcos se encontram na Baía do Guajará para uma grande barqueata.
https://cimi.org.br/2025/11/caravana-da-resposta-cop30/
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