De Povos Indígenas no Brasil
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Brasil tem 391 etnias indígenas declaradas, e SP é o estado mais diverso, aponta Censo 2022
24/10/2025
Fonte: O Globo - https://oglobo.globo.com/
Brasil tem 391 etnias indígenas declaradas, e SP é o estado mais diverso, aponta Censo 2022
Os Tikúna são povo mais populoso do país, mas superados pelos Guarani nos agrupamentos por identidades
24/10/2025
Júlia Cople
O Brasil reúne 391 etnias declaradas por indígenas, apontam dados do Censo Demográfico 2022 divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira. O novo levantamento identificou 86 outros grupos étnicos que não constavam do anterior, de 2010. O estado de São Paulo apresenta a maior diversidade étnica do país, com a presença de 271 das etnias, à frente de Amazonas (259) e Bahia (233). O menos diverso, o Amapá foi o único estado da federação a apresentar recuo na última década - hoje há por lá 52 grupos, contra anteriores 55.
De 2010 a 2022, processos de migração, afirmação étnica e melhorias na captação de dados, entre outros fatores, levaram à atualização da lista de povos residentes no país: 25 etnias foram desagregadas em relação ao Censo passado; outras oito que apareciam como outras etnias das Américas foram individualizadas desta vez; e uma foi inserida para agregar dois grupos antes isolados. Além disso, 75 etnônimos [nomes pelos quais as comunidades se reconhecem] foram classificados como etnias em 2022.
Já dentro das terras indígenas oficialmente reconhecidas, foram identificadas 335 etnias, contra 250 do levantamento anterior. Considerando apenas esses territórios, a diversidade é maior no Amazonas (95), no Pará (88) e no Mato Grosso (79).
Entre as novas etnias, estão os povos Akroá-Gamela, Xikrin, Tuxi, Tapuia-Tarairiús e Tapuya-Kariri, entre outros.
Os dados do Censo apontam grandes centros do país como as cidades em que há mais grupos diferentes de indígenas. São Paulo registrou 194 delas; Manaus, 186; e Rio de Janeiro, 176; por exemplo. Brasília (167) e Salvador (142) fecham o top 5. Fora das capitais, a diversidade se destaca em Campinas (SP), com 96 etnias; Santarém (PA), com 87; e Iranduba (AM), com 77.
- Nos municípios, vê-se a concentração [de etnias] nos estados da Amazônia Legal, com destaque para a região do Rio Negro, o Sudoeste do Pará, o interior entre Bahia e Pernambuco e municípios litorâneos do Sudeste. Você repara que as maiores concentrações estão em capitais, cidades de centralidade significativa em relação à atração de população indígena, tanto para o acesso a serviços, quanto para provimento de necessidades e trabalho. Os municípios fora das capitais são Campinas, onde você tem a presença de uma universidade com processo diferenciado de admissão de indígenas, e Santarém, centro regional importante no Pará - destaca Fernando Damasco, gerente de Territórios Tradicionais e Áreas Protegidas do IBGE.
Em 2022, o número de indígenas residentes no Brasil foi de 1.693.535 pessoas, o que representava 0,83% da população total do país. Em 2010, o IBGE contou 896.917 mil indígenas, ou 0,47% do total de residentes no território nacional. Isso significa que esse contingente teve uma ampliação de 88,82% desde o Censo Demográfico anterior. Esses dados totais, divulgados em maio, apontaram que mais da metade dos indígenas (56,1%) têm até 29 anos de idade. E mais da metade reside em áreas urbanas - salto de 36,2% em 2010 para 54% em 2022.
Com o incremento de quase 90% da população indígena em uma década, cresceu a expectativa sobre como esses "novos integrantes" se posicionariam em relação à declaração de etnia. No Censo 2022, o recenseador podia registrar até duas etnias para este quesito, caso os informantes declarassem mais de uma.
Os dados mostram que a proporção de indígenas que declarou ao menos uma etnia pouco variou: foi de 75,41% a 74,51%. Mas, com o salto nos números absolutos, os analistas concluem pelo avanço na declaração do pertencimento étnico. Nas terras indígenas, esse status de declaração passou de 89,5% à quase totalidade, 99,76%.
Etnias mais populosas
A etnia Tikúna é a maior do país, com pouco mais de 74 mil integrantes - 71% deles residentes em Terras Indígenas. Eles se concentram no Amazonas (73,5 mil), em cidades como Tabatinga e Atalaia do Norte, em geral acompanhando calhas do Rio Solimões. Também estão presentes na capital do estado, o que, para Damasco, indica o fluxo permanente entre localizações originárias e tradicionais com os grandes centros, dadas as necessidades de acesso a serviços e políticas públicas disponíveis em municípios maiores.
Pelos dados do Censo 2022, a idade mediana do povo Tikúna passou de 17 anos, em 2010, para 19, em 2022. A pirâmide etária do grupo aponta uma ligeira queda na fecundidade - ou seja, embora seja jovem, seu crescimento populacional tende a desacelerar nos próximos anos.
A segunda maior etnia identificada pelo Censo foi a Kokama, cujo salto populacional em uma década chamou a atenção dos especialistas. De cerca de 11 mil, o grupo superou os 64 mil integrantes em 2022 - fruto de esforços comunitários de autoafirmação e melhorias metodológicas na captação do fenômeno étnico, destaca Fernando Damasco. A maior parte deles (67,65%) vive em situação urbana. Em geral, os Kokama se situam sobretudo no alto e médio Solimões, em municípios do estado de Amazonas. A idade mediana das pessoas passou de 15 para 20 anos, sem grande decréscimo da taxa de fecundidade.
Já os Makuxí são a terceira etnia mais populosa, com 53,4 mil pessoas - a maior parte delas (68,31%) é residente em terras indígenas, com destaque para a TI Raposa Serra do Sol, em Roraima. O estado abriga quase todo o grupo (52 mil), mas há presença importante também em Manaus (AM), o que demonstra, para os especialistas, esse vínculo com capitais.
Para Marta Antunes, gerente de Povos e Comunidades Tradicionais e Grupos Populacionais Específicos (GPCTE), o detalhamento permitirá a análise individualizada dos grupos étnicos - onde se situam, se tiveram acesso a terras indígenas, se estão em situação rural ou urbana - e, por consequência, a adaptação de políticas públicas voltadas a cada uma delas.
- Os Kokama tiveram crescimento com a maioria da população residindo fora de terras indígenas, em situação urbana. Os Pataxó estão na mesma situação. Já entre os Terena, podemos ver a divisão entre os que residem dentro e fora de terras indígenas. Por outro lado, 80% dos Guajajara residem em terras indígenas, assim como 73% dos Kaingang. Isso mostra a situação de acesso à regularização fundiária e a presença maior fora de terras indígenas, dependendo da etnia - destaca.
Embora os Tikúna sejam a etnia mais populosa, em termos de agrupamento étnico (quando são considerados em conjunto grupos com vinculações históricas, sociais e antropológicas), eles são superados pelos Guarani. O detalhamento foi feito no Censo 2022 a pedido de organizações indígenas. Em 2022, as etnias que apontam o pertencimento ao Grande Povo Guarani somaram mais de 92,8 mil integrantes, num salto de 37,53% em relação a 2010.
Segundo o levantamento, os Guarani registraram presença expressiva em regiões como o Cone Sul do Mato Grosso do Sul e o Paraná, chegando à costa de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, numa espécie de "faixa continental" que se estende do Paraguai ao litoral.
O Censo 2022 também apontou variações nas etnias mais populosas em cada unidade da federação.
- No Pará, a gente tinha os Kayapó como principal grupo e agora temos os Munduruku, em virtude das melhorias de coleta implementadas nesse Censo. Em Alagoas, a gente tem Xucuru-Kariri ultrapassando os Wassú. No Distrito Federal, a gente tem alteração de Guarani para Tenetehára, sabendo que é uma área de atração de povos de várias etnias, então a gente já esperava maior flutuação - ressalta Damasco.
Os dados apontam, ainda, que 64,52% das etnias residentes fora de terras indígenas e em situação urbana possuem até 250 pessoas. Nessa configuração de residência, grupos de 10 mil pessoas ou mais passaram de zero, em 2010, para 3,49%, em 2022.
Já entre as 29 etnias com mais de 10 mil pessoas, a proporção de pessoas residindo em terra indígena é da etnia Yanomami/Yanomán (94,34%), seguida da Guajajara (80,28%) e da Xavante (79,5%). A etnia com menor percentual a viver nesses territórios demarcados é a Tupinambá (1,21%).
https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2025/10/24/brasil-tem-391-etnias-indigenas-declaradas-e-sp-e-o-estado-mais-diverso-aponta-censo-2022.ghtml
Os Tikúna são povo mais populoso do país, mas superados pelos Guarani nos agrupamentos por identidades
24/10/2025
Júlia Cople
O Brasil reúne 391 etnias declaradas por indígenas, apontam dados do Censo Demográfico 2022 divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira. O novo levantamento identificou 86 outros grupos étnicos que não constavam do anterior, de 2010. O estado de São Paulo apresenta a maior diversidade étnica do país, com a presença de 271 das etnias, à frente de Amazonas (259) e Bahia (233). O menos diverso, o Amapá foi o único estado da federação a apresentar recuo na última década - hoje há por lá 52 grupos, contra anteriores 55.
De 2010 a 2022, processos de migração, afirmação étnica e melhorias na captação de dados, entre outros fatores, levaram à atualização da lista de povos residentes no país: 25 etnias foram desagregadas em relação ao Censo passado; outras oito que apareciam como outras etnias das Américas foram individualizadas desta vez; e uma foi inserida para agregar dois grupos antes isolados. Além disso, 75 etnônimos [nomes pelos quais as comunidades se reconhecem] foram classificados como etnias em 2022.
Já dentro das terras indígenas oficialmente reconhecidas, foram identificadas 335 etnias, contra 250 do levantamento anterior. Considerando apenas esses territórios, a diversidade é maior no Amazonas (95), no Pará (88) e no Mato Grosso (79).
Entre as novas etnias, estão os povos Akroá-Gamela, Xikrin, Tuxi, Tapuia-Tarairiús e Tapuya-Kariri, entre outros.
Os dados do Censo apontam grandes centros do país como as cidades em que há mais grupos diferentes de indígenas. São Paulo registrou 194 delas; Manaus, 186; e Rio de Janeiro, 176; por exemplo. Brasília (167) e Salvador (142) fecham o top 5. Fora das capitais, a diversidade se destaca em Campinas (SP), com 96 etnias; Santarém (PA), com 87; e Iranduba (AM), com 77.
- Nos municípios, vê-se a concentração [de etnias] nos estados da Amazônia Legal, com destaque para a região do Rio Negro, o Sudoeste do Pará, o interior entre Bahia e Pernambuco e municípios litorâneos do Sudeste. Você repara que as maiores concentrações estão em capitais, cidades de centralidade significativa em relação à atração de população indígena, tanto para o acesso a serviços, quanto para provimento de necessidades e trabalho. Os municípios fora das capitais são Campinas, onde você tem a presença de uma universidade com processo diferenciado de admissão de indígenas, e Santarém, centro regional importante no Pará - destaca Fernando Damasco, gerente de Territórios Tradicionais e Áreas Protegidas do IBGE.
Em 2022, o número de indígenas residentes no Brasil foi de 1.693.535 pessoas, o que representava 0,83% da população total do país. Em 2010, o IBGE contou 896.917 mil indígenas, ou 0,47% do total de residentes no território nacional. Isso significa que esse contingente teve uma ampliação de 88,82% desde o Censo Demográfico anterior. Esses dados totais, divulgados em maio, apontaram que mais da metade dos indígenas (56,1%) têm até 29 anos de idade. E mais da metade reside em áreas urbanas - salto de 36,2% em 2010 para 54% em 2022.
Com o incremento de quase 90% da população indígena em uma década, cresceu a expectativa sobre como esses "novos integrantes" se posicionariam em relação à declaração de etnia. No Censo 2022, o recenseador podia registrar até duas etnias para este quesito, caso os informantes declarassem mais de uma.
Os dados mostram que a proporção de indígenas que declarou ao menos uma etnia pouco variou: foi de 75,41% a 74,51%. Mas, com o salto nos números absolutos, os analistas concluem pelo avanço na declaração do pertencimento étnico. Nas terras indígenas, esse status de declaração passou de 89,5% à quase totalidade, 99,76%.
Etnias mais populosas
A etnia Tikúna é a maior do país, com pouco mais de 74 mil integrantes - 71% deles residentes em Terras Indígenas. Eles se concentram no Amazonas (73,5 mil), em cidades como Tabatinga e Atalaia do Norte, em geral acompanhando calhas do Rio Solimões. Também estão presentes na capital do estado, o que, para Damasco, indica o fluxo permanente entre localizações originárias e tradicionais com os grandes centros, dadas as necessidades de acesso a serviços e políticas públicas disponíveis em municípios maiores.
Pelos dados do Censo 2022, a idade mediana do povo Tikúna passou de 17 anos, em 2010, para 19, em 2022. A pirâmide etária do grupo aponta uma ligeira queda na fecundidade - ou seja, embora seja jovem, seu crescimento populacional tende a desacelerar nos próximos anos.
A segunda maior etnia identificada pelo Censo foi a Kokama, cujo salto populacional em uma década chamou a atenção dos especialistas. De cerca de 11 mil, o grupo superou os 64 mil integrantes em 2022 - fruto de esforços comunitários de autoafirmação e melhorias metodológicas na captação do fenômeno étnico, destaca Fernando Damasco. A maior parte deles (67,65%) vive em situação urbana. Em geral, os Kokama se situam sobretudo no alto e médio Solimões, em municípios do estado de Amazonas. A idade mediana das pessoas passou de 15 para 20 anos, sem grande decréscimo da taxa de fecundidade.
Já os Makuxí são a terceira etnia mais populosa, com 53,4 mil pessoas - a maior parte delas (68,31%) é residente em terras indígenas, com destaque para a TI Raposa Serra do Sol, em Roraima. O estado abriga quase todo o grupo (52 mil), mas há presença importante também em Manaus (AM), o que demonstra, para os especialistas, esse vínculo com capitais.
Para Marta Antunes, gerente de Povos e Comunidades Tradicionais e Grupos Populacionais Específicos (GPCTE), o detalhamento permitirá a análise individualizada dos grupos étnicos - onde se situam, se tiveram acesso a terras indígenas, se estão em situação rural ou urbana - e, por consequência, a adaptação de políticas públicas voltadas a cada uma delas.
- Os Kokama tiveram crescimento com a maioria da população residindo fora de terras indígenas, em situação urbana. Os Pataxó estão na mesma situação. Já entre os Terena, podemos ver a divisão entre os que residem dentro e fora de terras indígenas. Por outro lado, 80% dos Guajajara residem em terras indígenas, assim como 73% dos Kaingang. Isso mostra a situação de acesso à regularização fundiária e a presença maior fora de terras indígenas, dependendo da etnia - destaca.
Embora os Tikúna sejam a etnia mais populosa, em termos de agrupamento étnico (quando são considerados em conjunto grupos com vinculações históricas, sociais e antropológicas), eles são superados pelos Guarani. O detalhamento foi feito no Censo 2022 a pedido de organizações indígenas. Em 2022, as etnias que apontam o pertencimento ao Grande Povo Guarani somaram mais de 92,8 mil integrantes, num salto de 37,53% em relação a 2010.
Segundo o levantamento, os Guarani registraram presença expressiva em regiões como o Cone Sul do Mato Grosso do Sul e o Paraná, chegando à costa de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, numa espécie de "faixa continental" que se estende do Paraguai ao litoral.
O Censo 2022 também apontou variações nas etnias mais populosas em cada unidade da federação.
- No Pará, a gente tinha os Kayapó como principal grupo e agora temos os Munduruku, em virtude das melhorias de coleta implementadas nesse Censo. Em Alagoas, a gente tem Xucuru-Kariri ultrapassando os Wassú. No Distrito Federal, a gente tem alteração de Guarani para Tenetehára, sabendo que é uma área de atração de povos de várias etnias, então a gente já esperava maior flutuação - ressalta Damasco.
Os dados apontam, ainda, que 64,52% das etnias residentes fora de terras indígenas e em situação urbana possuem até 250 pessoas. Nessa configuração de residência, grupos de 10 mil pessoas ou mais passaram de zero, em 2010, para 3,49%, em 2022.
Já entre as 29 etnias com mais de 10 mil pessoas, a proporção de pessoas residindo em terra indígena é da etnia Yanomami/Yanomán (94,34%), seguida da Guajajara (80,28%) e da Xavante (79,5%). A etnia com menor percentual a viver nesses territórios demarcados é a Tupinambá (1,21%).
https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2025/10/24/brasil-tem-391-etnias-indigenas-declaradas-e-sp-e-o-estado-mais-diverso-aponta-censo-2022.ghtml
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