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COP 30 encerra com avanços sociais e em adaptação, mas falha com fósseis

22/11/2025

Autor: Waldick Junior

Fonte: A Critica - https://www.acritica.com



Texto reconhece importância dos territórios indígenas e quilombolas no debate climático, aponta indicadores para mundo se adaptar aos novos extremos, mas deixa combustíveis fósseis de fora

Belém - Sob a presidência do Brasil, a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30) encerrou neste sábado (22) com avanços importantes, como o reconhecimento do papel das populações indígenas, afrodescendentes e comunidades locais para o combate à mudança do clima, além de indicadores para medir a adaptação dos países ao problema. No entanto, deixou de fora do texto final o tema central da crise climática: os combustíveis fósseis.

Foram aprovados os textos discutidos ao longo das duas semanas de evento na capital paraense, dentre eles, a 'Decisão Mutirão' (que inclui quatro diferentes temas) e outros acordos igualmente relacionados à mudança climática, como adaptação aos novos tempos e mitigação para frear a expansão do problema. Alguns destaques são:

Mecanismo de transição justa: cria diretrizes para garantir que a mudança para uma economia de baixo carbono ocorra com proteção social, geração de empregos e apoio a trabalhadores e comunidades afetadas - e que seja em níveis diferentes, a depender das condições de cada país;
Adoção dos indicadores de adaptação: estabelece um conjunto global de métricas para medir como cada país está se preparando e respondendo aos impactos da mudança do clima. A COP começou com 100 indicadores (incluindo alguns sobre água, saúde e infraestrutura), mas caiu para 59 - número importante, mas abaixo do ideal;
Triplicar o financiamento à adaptação: incentiva os países a ampliar em três vezes os recursos destinados a ajudar nações vulneráveis a enfrentar eventos climáticos extremos e fortalecer sua resiliência. Embora seja importante, não apresenta qual seria esse valor.
Outra grande entrega do governo brasileiro é o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês), um mecanismo que permitirá que países e empresas invistam recursos e recebam dividendos (ou seja, não se trata de doações) enquanto parte do dinheiro financia projetos de proteção das florestas tropicais e das populações que vivem nesses biomas. O fundo, que espera arrecadar US$ 25 bilhões a partir dos países, já soma US$ 6,7 bilhões desses recursos.

Fósseis e desmatamento
Duas das maiores frustrações foram a falta de um roteiro para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis, proposta defendida por Lula na abertura da COP30, e a ausência de um plano para acabar com o desmatamento ilegal até 2030. Embora mais de 80 países tenham apoiado a iniciativa, ela encontrou forte resistência, especialmente de nações árabes altamente dependentes do petróleo.

Mesmo assim, o debate ajudou a mobilizar países em torno do tema, com destaque para a Colômbia, que assumiu o compromisso de sediar a Primeira Conferência Internacional sobre a Transição Justa para Longe dos Combustíveis Fósseis, de 28 a 29 de abril de 2026.

O evento recebeu o apoio da presidência brasileira da COP, que também decidiu incluir como agenda própria (ainda que não haja peso decisório para os países) o estabelecimento de roteiros tanto para a eliminação dos fósseis quanto para o fim do desmatamento.

"Um desses processos é o roadmap para combustíveis fósseis, que deve começar na cúpula convocada pela Colômbia em abril de 2026. A presidência sinalizou que esses mapas serão construídos de forma inclusiva, envolvendo não apenas governos, mas também outros atores diretamente ligados a essas agendas", diz Fernanda Bortolotto, especialista em políticas climáticas da The Nature Conservancy (TNC) Brasil.
Presidente da Iniciativa do Tratado sobre Combustíveis Fósseis, o sul-africano Kumi Naidoo afirmou que o resultado da COP 30 ficou muito aquém do que o mundo precisa em um momento de múltiplas crises.

"Não podemos esperar mais um ano por outro sinal político fraco enquanto comunidades queimam e se afogam. É exatamente por isso que Colômbia e Holanda lançaram uma conferência paralela para o próximo mês de abril, voltada aos países dispostos a enfrentar esses temas de frente e ajudar a cumprir as metas do Acordo de Paris, inclusive discutindo caminhos para um Tratado de Combustíveis Fósseis", disse.

Social
Chamada pelo presidente Lula de "COP do Povo", devido à ampla participação popular no evento, especialmente em agendas paralelas, esta 30ª edição da Conferência registrou avanços importantes nesse campo. Um deles foi o reconhecimento dos territórios indígenas e de comunidades locais como centrais no combate à mudança do clima, o que abre caminho para os países atuarem com políticas específicas para esses territórios, ou mesmo para maneiras de implementar financiamentos diretos a essas populações.

Outro destaque foi a aprovação do Plano de Ação de Gênero de Belém (GAP), que reconhece que os impactos da crise climática não são neutros em relação ao gênero e que respostas inclusivas e equitativas são essenciais para uma governança climática efetiva. O tema era considerado sensível, recebendo, inclusive, críticas por parte do Vaticano, mas que termina aprovado.

Para o Instituto Clima e Sociedade (iCS), a COP30 "será lembrada pela forte visibilidade e força da sociedade civil, incluindo povos indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais, mas também diversos movimentos sociais, organizações de jovens e mulheres, que estiveram nas ruas e dentro da conferência exigindo mais ambição e deixando claro que a urgência climática não pode ser desconsiderada".

Contexto difícil
Foi a primeira vez, em três décadas, que o principal evento global sobre mudança do clima ocorreu na Amazônia, justamente uma das regiões mais vulneráveis aos extremos climáticos. Entre calor recorde, secas históricas e cheias cada vez mais intensas, os mais de 50 milhões de habitantes da região, incluindo 29 milhões de brasileiros, já sentem esses impactos no dia a dia.

A presidência brasileira teve de atuar em um cenário de multilateralismo enfraquecido e lidar com a ausência sintomática do maior emissor histórico de gases de efeito estufa, os Estados Unidos, que se retiraram totalmente do evento. Também pesaram as ausências dos aliados do BRICS, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e o presidente da China, Xi Jinping, embora ambos os países tenham enviado delegações.

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