De Povos Indígenas no Brasil
Notícias
Índios cultivam feijão orgânico
07/12/2003
Fonte: A Crítica, Economia, p.A12
Índios cultivam feijão orgânico
Comunidades indígenas de Roraima, vão faturar aproximadamente R$ 50 mil com a produção deste ano, estimada em 59 toneladas
Loredana Kotinski
Do extremo Norte do Brasil, no município de Uiramutã (RR), vai sair a primeira safra de feijão orgânico produzido por índios no País. Puro, sem agrotóxicos ou adubo químico, o feijão Flexal representa uma abertura no mercado regional para esse tipo de produto e uma conquista na luta pela sobrevivência das comunidades indígenas brasileiras.
Somente com a produção deste ano, estimada em- 50 toneladas, eles poderão faturar em tomo R$ 50 mil, conforme estimativa do secretário Municipal de Agricultura, Manoel Araújo, 31.
Dos tipos carioquinha e jaspe - um feijão vermelho - o feijão Flexal deve chegar às prateleiras dos supermercados de Roraima até o final deste ano. Colhido e selecionado, ele segue agora para ser ensacado. E mais: receber o selo de origem e a logomarca Flexal, produto indígena. Não há plantio mecanizado e nem preparo do solo. 0 feijão dos índios do Uiramutã é semeado no fértil solo de uma região de serras e conta apenas com a irrigação da chuva. 0 clima, com temperaturas que variam entre 30 e 15 graus centígrados, ajuda.
Mais que a prática da agricultura em escala comercial, a atividade praticada pelos indígenas significa o começo da conquista da independência econômica. É a primeira vez que os indígenas colocam no mercado uma produção agrícola comercial. Anteriormente, seus produtos não passavam das feiras e em pequena escala, explica Manoel.
"Com a venda do feijão, a gente já conseguiu comprar boi e carneiro. E agora a gente vai comprar mais semente e gado", avisa o tuxaua da aldeia Macuxi Flexal, Abel Barbosa, pioneira no plantio do feijão na região. A declaração dele, que aponta para o boi solto e os carneiros que vem e vão pelos arredores das malocas, demonstra que seu povo parece estar encontrando o caminho da sobrevivência econômica. "Depois que a gente começou a plantar feijão as coisas melhoraram e não falta comida, porque, com o dinheiro que a gente consegue, compra outras coisas", conta.
Premiação pelo empreendedorismo
Foi no local que deu o nome ao feijão, que iniciou o cultivo do feijão orgânico, envolvendo inicialmente 80 famílias. Hoje, o plantio se espalhou por 450 counidades do Uiramutã, num trabalho que resultado da política de administração participativa implanta pela Prefeitura do Município. "A Prefeitura entra com as sementes, os insumos, o custo de transporte, de embalagem e ainda intermedia a comercialização. Em troca os índios entregam sementes na mesma quantidade que receberam para começar o cultivo", explica a prefeita Florany Mota (PT-RR), 30.
Nascida no Município, ela se emociona ao falar de como os índios do Uiramutã vêm conquistando sua independência, mesmo em parceria com o Governo municipal. E se orgulha ao falar que esse e outros projetos lhe renderam, no ano passado, o Prêmio Mário Covas de Município Empreendedor. Nós estamos muito satisfeitos com os resultados e, o melhor, com a garantia de que os índios terão como sobreviver economicamente.
Ela percorre, semanalmente as áreas de cultivo. De roça em roça, a prefeita do Uiramutã faz questão de verificar se a safra do ano será boa. "A minha preocupação é que essa atividade cresça e se torne uma alternativa econômica auto-sustentável para os índios. Além de vender o feijão, eles podem gerar outras rendas e ter outros benefícios a partir dele", justifica Florany.
Tambaqui que vale ouro
O açude foi resultado da exploração ilegal de ouro na' região e o que sai dessas águas hoje não brilha, mas tem valor comercial dos maiores para os moradores da lugar, índios Macuxi que vivem na comunidade Água Fria, município de Uiramutã (RR). Pela primeira vez eles irão entrar no mercado roraimense comercializado tambaqui em larga escala. E garantir uma fonte de renda que vem sendo tentada há mais de um ano, numa parceria entre eles e a Prefeitura de Uiramutã.
A estimativa da Secretaria Municipal de Agricultura é de que 20 toneladas do peixe cheguem aos frigoríficos e feiras da capital Boa Vista. Um lucro que pode alcançar R$ 60 mil, se levado em conta que o preço do quilo do tambaqui é de quase R$ 3, conforme a Prefeitura do Município. Isso porque a piscicultura em Água Fria ainda é um projeto piloto, resultado de uma reivindicação dos indígenas que ditam suas prioridades no estilo de administração participativa adotada pelo município.
Nesse sistema, a Prefeitura do Uiramutã entrou com os alevinos, a ração e a assistência técnica. Os índios fazem a parte deles alimentando os peixes. Depois, é só capturar com a rede e levar para a comercialização. Nesse meio tempo - os alevinos levam nove meses para atingir a idade adulta - os indígenas aprendem a retirar as matrizes para a produção de novos alevinos e, ainda, a selecionar os tambaquis em tamanho ideal para a venda.
Ao todo, segundo a prefeita do Uiramutã, Florany Mota, 30 famílias estão envolvidas na prática da piscicultura. E uma das maiores conquistas foi ter conseguido ver a comunidade se organizar em uma associação e compartilhar trabalho e lucro. "Eles estão fortalecidos, sabem o que querem e estão organizados para isso. Isso significa um avanço e a garantia de que o trabalho poderá continuar independente de governo", salienta Florany.
Festa
Animados com a idéia de ganhar mercado e com isso garantir o passaporte para a independência econômica, os índios do Água Fria fizeram da primeira pesca dos tambaquis um festival. Eles dançaram por dois dias para comemorar o resultado do trabalho. Mas os primeiros tambaquis só chegam à mesa do boavistense este mês. A venda será intermediada pela Prefeitura do Uiramutã e toda a renda revertida para a associação Água Fria.
A Crítica, 07/12/2003, p. A12.
Comunidades indígenas de Roraima, vão faturar aproximadamente R$ 50 mil com a produção deste ano, estimada em 59 toneladas
Loredana Kotinski
Do extremo Norte do Brasil, no município de Uiramutã (RR), vai sair a primeira safra de feijão orgânico produzido por índios no País. Puro, sem agrotóxicos ou adubo químico, o feijão Flexal representa uma abertura no mercado regional para esse tipo de produto e uma conquista na luta pela sobrevivência das comunidades indígenas brasileiras.
Somente com a produção deste ano, estimada em- 50 toneladas, eles poderão faturar em tomo R$ 50 mil, conforme estimativa do secretário Municipal de Agricultura, Manoel Araújo, 31.
Dos tipos carioquinha e jaspe - um feijão vermelho - o feijão Flexal deve chegar às prateleiras dos supermercados de Roraima até o final deste ano. Colhido e selecionado, ele segue agora para ser ensacado. E mais: receber o selo de origem e a logomarca Flexal, produto indígena. Não há plantio mecanizado e nem preparo do solo. 0 feijão dos índios do Uiramutã é semeado no fértil solo de uma região de serras e conta apenas com a irrigação da chuva. 0 clima, com temperaturas que variam entre 30 e 15 graus centígrados, ajuda.
Mais que a prática da agricultura em escala comercial, a atividade praticada pelos indígenas significa o começo da conquista da independência econômica. É a primeira vez que os indígenas colocam no mercado uma produção agrícola comercial. Anteriormente, seus produtos não passavam das feiras e em pequena escala, explica Manoel.
"Com a venda do feijão, a gente já conseguiu comprar boi e carneiro. E agora a gente vai comprar mais semente e gado", avisa o tuxaua da aldeia Macuxi Flexal, Abel Barbosa, pioneira no plantio do feijão na região. A declaração dele, que aponta para o boi solto e os carneiros que vem e vão pelos arredores das malocas, demonstra que seu povo parece estar encontrando o caminho da sobrevivência econômica. "Depois que a gente começou a plantar feijão as coisas melhoraram e não falta comida, porque, com o dinheiro que a gente consegue, compra outras coisas", conta.
Premiação pelo empreendedorismo
Foi no local que deu o nome ao feijão, que iniciou o cultivo do feijão orgânico, envolvendo inicialmente 80 famílias. Hoje, o plantio se espalhou por 450 counidades do Uiramutã, num trabalho que resultado da política de administração participativa implanta pela Prefeitura do Município. "A Prefeitura entra com as sementes, os insumos, o custo de transporte, de embalagem e ainda intermedia a comercialização. Em troca os índios entregam sementes na mesma quantidade que receberam para começar o cultivo", explica a prefeita Florany Mota (PT-RR), 30.
Nascida no Município, ela se emociona ao falar de como os índios do Uiramutã vêm conquistando sua independência, mesmo em parceria com o Governo municipal. E se orgulha ao falar que esse e outros projetos lhe renderam, no ano passado, o Prêmio Mário Covas de Município Empreendedor. Nós estamos muito satisfeitos com os resultados e, o melhor, com a garantia de que os índios terão como sobreviver economicamente.
Ela percorre, semanalmente as áreas de cultivo. De roça em roça, a prefeita do Uiramutã faz questão de verificar se a safra do ano será boa. "A minha preocupação é que essa atividade cresça e se torne uma alternativa econômica auto-sustentável para os índios. Além de vender o feijão, eles podem gerar outras rendas e ter outros benefícios a partir dele", justifica Florany.
Tambaqui que vale ouro
O açude foi resultado da exploração ilegal de ouro na' região e o que sai dessas águas hoje não brilha, mas tem valor comercial dos maiores para os moradores da lugar, índios Macuxi que vivem na comunidade Água Fria, município de Uiramutã (RR). Pela primeira vez eles irão entrar no mercado roraimense comercializado tambaqui em larga escala. E garantir uma fonte de renda que vem sendo tentada há mais de um ano, numa parceria entre eles e a Prefeitura de Uiramutã.
A estimativa da Secretaria Municipal de Agricultura é de que 20 toneladas do peixe cheguem aos frigoríficos e feiras da capital Boa Vista. Um lucro que pode alcançar R$ 60 mil, se levado em conta que o preço do quilo do tambaqui é de quase R$ 3, conforme a Prefeitura do Município. Isso porque a piscicultura em Água Fria ainda é um projeto piloto, resultado de uma reivindicação dos indígenas que ditam suas prioridades no estilo de administração participativa adotada pelo município.
Nesse sistema, a Prefeitura do Uiramutã entrou com os alevinos, a ração e a assistência técnica. Os índios fazem a parte deles alimentando os peixes. Depois, é só capturar com a rede e levar para a comercialização. Nesse meio tempo - os alevinos levam nove meses para atingir a idade adulta - os indígenas aprendem a retirar as matrizes para a produção de novos alevinos e, ainda, a selecionar os tambaquis em tamanho ideal para a venda.
Ao todo, segundo a prefeita do Uiramutã, Florany Mota, 30 famílias estão envolvidas na prática da piscicultura. E uma das maiores conquistas foi ter conseguido ver a comunidade se organizar em uma associação e compartilhar trabalho e lucro. "Eles estão fortalecidos, sabem o que querem e estão organizados para isso. Isso significa um avanço e a garantia de que o trabalho poderá continuar independente de governo", salienta Florany.
Festa
Animados com a idéia de ganhar mercado e com isso garantir o passaporte para a independência econômica, os índios do Água Fria fizeram da primeira pesca dos tambaquis um festival. Eles dançaram por dois dias para comemorar o resultado do trabalho. Mas os primeiros tambaquis só chegam à mesa do boavistense este mês. A venda será intermediada pela Prefeitura do Uiramutã e toda a renda revertida para a associação Água Fria.
A Crítica, 07/12/2003, p. A12.
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