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Roraima pede a Lula que PF saia de reserva

04/04/2008

Autor: Andrezza Trajano

Fonte: FSP, Brasil, p. A10



Roraima pede a Lula que PF saia de reserva
Em carta ao presidente, governador e deputados apelam para que ação policial em área indígena Raposa/Serra do Sol seja suspensa
Arrozeiros, que devem ser retirados do local, mantêm bloqueios em acessos fluvial e terrestres ao local para impedir entrada de agentes

Andrezza Trajano
Colaboração para a agência Folha, em Boa Vista

O governador José de Anchieta Júnior (PSDB) e deputados estaduais assinaram ontem, na Assembléia Legislativa de Roraima, uma carta que pede ao presidente Lula a suspensão da Operação Upatakon 3 até que o STF (Supremo Tribunal Federal) se manifeste sobre a retirada dos arrozeiros da terra indígena Raposa/Serra do Sol, no nordeste do Estado.
Ao mesmo tempo, lideranças dos arrozeiros mantiveram os bloqueios para impedir a entrada de agentes federais na área. A operação da Polícia Federal teve início na semana passada e também pretende retirar outros não-indígenas que se negam a abandonar a área, homologada em 2005 pelo presidente e onde, de acordo com o decreto de criação, só pode permanecer a população indígena.

Bloqueios
As ações para impedir que a PF e outros agentes federais tenham acesso à terra indígena prosseguiram ontem na vila do Surumu. O rio Uraricoera recebeu rondas a cavalo dos manifestantes para impedir o acesso fluvial à região. A única balsa que faz o transporte para o local foi retida. As pistas de pouso de aeronaves foram bloqueadas.
No final de semana, os manifestantes queimaram pontes que servem de ligação terrestre à área indígena. Um grupo de 40 índios macuxis se uniu aos manifestantes. Eles esperam a chegada de outros 300 macuxis da comunidade do Flechal, também localizada dentro da reserva e que também apóiam os arrozeiros. O líder da Associação dos Arrozeiros de Roraima, Paulo César Quartiero, disse que uma decisão do STF sobre o caso é a única alternativa para a solução pacífica do conflito.
Quartiero afirma que haverá conflito caso a Polícia Federal decida agir para retirar os arrozeiros da Raposa/Serra do Sol.

Protesto
De acordo com a Polícia Militar do Estado, mais de 300 pessoas estiveram presentes em manifestação em Boa Vista contrária à retirada dos não-índios da reserva. O protesto aconteceu ao mesmo tempo em que era assinada a carta para Lula.
De acordo com a assessoria de imprensa do governo de Roraima, Anchieta Júnior viajou ontem a Brasília com o objetivo de entregar a carta para o ministro Tarso Genro (Justiça). Seis carretas foram colocadas em frente ao prédio da Assembléia Legislativa e atrapalharam o trânsito na capital.
O Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) da Polícia Militar foi chamado, mas ninguém foi preso. A assessoria da Polícia Federal em Brasília afirma que atualmente a ação dos policiais na região se restringe ao "convencimento" dos moradores que devem ser sair.
No máximo em 30 dias, de acordo com a assessoria, cerca de 500 funcionários federais deverão chegar à Raposa/Serra do Sol para participar da Upatakon 3.
Colaboraram João Carlos Magalhães e Pablo Solano , da Agência Folha


Manifestantes tomam fitas de repórteres

Equipe jornalística da TV Ativa, retransmissora da TV Gazeta em Roraima, teve ontem fitas e blocos de anotações roubados por um grupo de manifestantes a favor da permanência dos arrozeiros na terra indígena Raposa/ Serra do Sol. Segundo o repórter da TV Johann Barbosa, o roubo aconteceu porque a equipe entrou em uma vila da reserva e entrevistou pessoas ligadas ao CIR (Conselho Indígena de Roraima), que é a favor da expulsão dos não-índios da área.


Manifestantes não pagam o almoço e mandam "pendurar" na conta de Lula

Colaboração para a agência Folha, em Boa Vista

Após os protestos em frente à Assembléia Legislativa de Roraima, mais de cem manifestantes seguiram para um restaurante no centro de Boa Vista e não pagaram o almoço. Eles mandaram colocar na conta do presidente da República os R$ 2.320 gastos com a refeição.
"Se ele tem R$ 2 milhões para gastar na Operação Upatakon 3, tem para pagar o nosso almoço", disse a desempregada Maria Patrícia Cunha. Ela afirma ser um absurdo o investimento em uma operação policial no Estado enquanto ela e suas duas filhas passam fome.
Com a mesma justificativa, o também desempregado Ronilson Silva trouxe a mulher e os filhos, que, segundo ele, nunca tinham comido tão bem. "Pela primeira vez, Lula deu para minha família comida e sobremesa. Esse valor, que alimentou mais de cem bocas, o presidente gasta em uma única garrafa de vinho", afirmou.
A Polícia Militar foi chamada. A dívida pelo não pagamento da refeição foi assumida pelo presidente da Federação das Associações de Moradores do Estado de Roraima, Faradilson Mesquita, que estava no restaurante, e os manifestantes foram embora.
Do lado de fora da Assembléia, outros manifestantes carregavam faixas e cartazes contrários à retirada dos não-índios e arrozeiros da Raposa/ Serra do Sol.
(AT)

FSP, 04/04/2008, Brasil, p. A10
 

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