De Povos Indígenas no Brasil

Notícias

Miséria e falta d’água "amarga" vida dos índios

02/12/2008

Autor: Flávio Verão

Fonte: Dourados Agora - www.douradosagora.com.br




Um ano e três meses se passaram e a família da índia caiuá Maria Rodrigues Cardoso, da Aldeia Jaguapiru, continua bebendo água suja em um pequeno córrego que passa aos fundos da tapera, onde vive com dois filhos.

A residência da indígena está incluida na faixa dos 5% que não possuem água tratada, calcula a Funasa. Esquecida no meio do mato, ela tem uma rotina desoladora. O meio de subsistência chega uma vez ao mês, com as cestas básicas distribuídas entre as centenas de famílias da Reserva Indígena de Dourados.

A tapera é simples. Tem apenas um cômodo, onde ela e os dois filhos dormem. "A gente vive esquecido aqui. Ninguém da Funai vem ver se estamos bem de saúde", disse Maria Cardoso à reportagem de O PROGRESSO, um ano e três meses depois da primeira visita.

A rotina não mudou. O córrego aos fundos de casa é utilizado para banhar a família, lavar roupas, beber e cozinhar. "A gente toma dessa água sem ferver mesmo. O índio é forte, não morre fácil", garante a indígena.

A tapera fica a 150 metros da rua principal que corta a Aldeia Jaguapiru, próximo uma grande escola que está sendo construída, porém, para chegar até lá é necessário passar por uma mata fechada. Os vizinhos próximos a ela têm água encanada. "Eu queria ter água como eles, mas assim está bom. Água é igual para todo mundo", disse ela, revelando não temer contaminação na água do riacho. "A gente se acostuma. Às vezes a água é amarga, mais acostuma", reiterou.
O filho mais velho que mora com ela, José Rodrigues Cardoso, desconhece o mundo afora. O seu maior orgulho foi a compra de um velho aparelho de som que funciona à base da bateria de carro. No local não existe energia elétrica. "Eu trabalhava na usina mais tive que sair porque sofro de constantes desmaios", frisou.

Ele disse que várias vezes procurou as agentes de saúde da aldeia e relatou o problema, mas ao olharem para ele diziam que não tinha nada. "Quando chega a noite parece que a minha cabeça vai explodir de tanta dor", relatou.
Isolados na tapera, a família vive apenas com a doação da cesta básica mensal. Ninguém trabalha. Para eles, a vida miserável sem uma única panela para cozinhar e duas trocas de roupas "são coisas da vida". "A gente vai levando assim", disse Maria Cardoso.

Perguntada se teria algum sonho, a índia ficou a pensar por algum tempo e disse: "quer apenas viver, mas gostaria de ter água e energia elétrica".

O filho mais velho consegue rabiscar o nome, mas não sabe ler. "Preciso trabalhar para ajudar a minha mãe", revelou, apontando como solução o trabalho braçal do corte de cana nas usinas sucroalcooleiras. "Quero curar esses desmaios para voltar a trabalhar", comentou.
 

As notícias publicadas no site Povos Indígenas no Brasil são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos .Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.