De Povos Indígenas no Brasil
Notícias
Quando campeia a impunidade!
08/03/2010
Autor: Egon D. Heck
Fonte: Adital - http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=45799
"Nós lideranças e comunidades estamos ameaçadas de morte continuamente pelos fazendeiros, por isso pedimos a punição rigorosa aos fazendeiros mandantes envolvidos, conforme código penal brasileira. Outro fato preocupante é que o professor Rolindo Vera prendido por pistoleiro naquele dia do despejo continua desaparecido até hoje, por isso também pedimos com urgência que a busca de nosso professor por parte da polícia continue até encontrá-lo, sobretudo, pedimos as punições aos autores e mandantes desses crimes cruéis, visto que até no momento continua sem punição, por isso os fazendeiros e envolvidos mandantes impunes continuam ameaçando-nos...(Comunidade do Ypo'i, março 2010)
Ao chegarmos aos barracos da família extensa dos Vera, de longe sentimos no ar o clima de revolta, apreensão, justiça e esperança. As faixas falavam, transmitiam seu pedido justiça e solidariedade a Rolindo e Jenivaldo, os dois professores Guarani assassinados quando estiveram presentes na volta à sua terra tradicional. Os rostos severos expressavam a dor. A poucos metros daí estava o barraco em que Jenivaldo vivia. E ali esta guardado seu corpo à espera de ser levado e sepultado na sua terra Ypo'i, onde fora cruelmente assassinado.
Fomos recebidos com o ritual do Jeroki. Na fala de um dos familiares estava expresso o sentimento de esperança, de uma boa notícia. "O Brasil e a humanidade não podem esquecer a barbaridade que fizeram com nois". Infelizmente não tínhamos nenhuma noticia alentadora, seja com relação ao inquérito (que corre em sigilo - ou anda parado!) ou em relação ao processo de identificação da terra. Tudo que tínhamos para levar era nosso gesto solidário ao grupo, à dor silenciada com relação ao corpo de Rolindo, até o momento não localizado. E lá estava a esposa com os quatro filinhos, tendo um deles nascido logo após o assassinato.
Neste contexto passamos os dois dias, refletindo, partilhando e alimentando a esperança. O Guarani é alegre" dizia um membro da comunidade, enquanto procuravam afastar a dor que sentiam no coração, tomando chicha, falando dos planos na volta para a terra tradicional, e na superação do momento em que estão passando bastante necessidade, pois não podem mais fazer suas roças. "Quando a gente entrar na luta, enfrenta muitas dificuldades", dizia seu Bernardo, pai do Jenivaldo. "Não temos medo de morrer. A vida do povo Guarani é uma luta. Vamos voltar pra nossa terra. Carregamos a paciência no coração, mas isso não quer dizer que estamos parados. A paciência também acaba", comentava um dos membros que foi torturado por ocasião da expulsão do Ypo'i pelos jagunços.
A dor maior vem do silêncio das autoridades, que nada informam, nada fazem e os matadores e mandantes andam soltos na região Depois de quatro meses "nada foi feito. Estão nos fazendo de bobos". Ficou então resolvido que iriam mais uma vez cobrar providencias das autoridades. Iriam entregar documento ao Ministério Público e à Comissão de Direitos Humanos que estará vindo ao Estado para apurar as denúncias de violação de direitos dos Kaiowá Guarani.
No documento expressam suas preocupações e exigências "o professor Rolindo Vera prendido por pistoleiro naquele dia do despejo continua desaparecido até hoje, por isso também pedimos com urgência que a busca de nosso professor por parte da polícia continue até encontrá-lo, sobretudo, pedimos as punições aos autores e mandantes desses crimes cruéis, visto que até no momento continua sem punição, por isso os fazendeiros e envolvidos mandantes impune continuam ameaçando-nos.
Por fim, reivindicamos a conclusão urgente de identificação e demarcação de nossa terra tradicional YPO I, uma vez que nós comunidade aqui na aldeia Pirajuy estamos apenas aguardando a demarcação definitiva de nossa terra tekoha..."
Comissão de Direitos Humanos vista aldeias Guarani
Um Grupo de Trabalho integrado por diversos órgãos ligados aos direitos humanos estarão visitando algumas áreas indígenas e conversando com diversos setores da sociedade regional do Mato Grosso do Sul, a partir de amanhã "Esse Grupo do CDDPH tem como escopo colher informações sobre as denúncias de violações dos direitos humanos de indígenas, mas especificamente optamos por focar na questão fundiária, apostando no bom andamento dos estudos demarcatórios e seu conseqüente processamento como premissa de um grande plano de ação para o não recrudescimento da violência, " informou Juliana, coordenadora do Grupo.
Existe a expectativa dos Kaiowá Guarani de que esse seja um momento importante de fazer chegar ao Presidente da República, ao Ministro da Justiça e outras autoridades a real situação de violência genocida e total impunidade que existe aqui no Mato Grosso do Sul. Querem mais uma vez dizer ao Brasil e ao mundo de que não agüentam ver suas lideranças sendo assassinadas e criminalizadas sem que se tome efetivas providências para interromper esse sofrimento secular. A impunidade não pode continuar campeando
* Assessor do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) Mato Grosso do Sul
Ao chegarmos aos barracos da família extensa dos Vera, de longe sentimos no ar o clima de revolta, apreensão, justiça e esperança. As faixas falavam, transmitiam seu pedido justiça e solidariedade a Rolindo e Jenivaldo, os dois professores Guarani assassinados quando estiveram presentes na volta à sua terra tradicional. Os rostos severos expressavam a dor. A poucos metros daí estava o barraco em que Jenivaldo vivia. E ali esta guardado seu corpo à espera de ser levado e sepultado na sua terra Ypo'i, onde fora cruelmente assassinado.
Fomos recebidos com o ritual do Jeroki. Na fala de um dos familiares estava expresso o sentimento de esperança, de uma boa notícia. "O Brasil e a humanidade não podem esquecer a barbaridade que fizeram com nois". Infelizmente não tínhamos nenhuma noticia alentadora, seja com relação ao inquérito (que corre em sigilo - ou anda parado!) ou em relação ao processo de identificação da terra. Tudo que tínhamos para levar era nosso gesto solidário ao grupo, à dor silenciada com relação ao corpo de Rolindo, até o momento não localizado. E lá estava a esposa com os quatro filinhos, tendo um deles nascido logo após o assassinato.
Neste contexto passamos os dois dias, refletindo, partilhando e alimentando a esperança. O Guarani é alegre" dizia um membro da comunidade, enquanto procuravam afastar a dor que sentiam no coração, tomando chicha, falando dos planos na volta para a terra tradicional, e na superação do momento em que estão passando bastante necessidade, pois não podem mais fazer suas roças. "Quando a gente entrar na luta, enfrenta muitas dificuldades", dizia seu Bernardo, pai do Jenivaldo. "Não temos medo de morrer. A vida do povo Guarani é uma luta. Vamos voltar pra nossa terra. Carregamos a paciência no coração, mas isso não quer dizer que estamos parados. A paciência também acaba", comentava um dos membros que foi torturado por ocasião da expulsão do Ypo'i pelos jagunços.
A dor maior vem do silêncio das autoridades, que nada informam, nada fazem e os matadores e mandantes andam soltos na região Depois de quatro meses "nada foi feito. Estão nos fazendo de bobos". Ficou então resolvido que iriam mais uma vez cobrar providencias das autoridades. Iriam entregar documento ao Ministério Público e à Comissão de Direitos Humanos que estará vindo ao Estado para apurar as denúncias de violação de direitos dos Kaiowá Guarani.
No documento expressam suas preocupações e exigências "o professor Rolindo Vera prendido por pistoleiro naquele dia do despejo continua desaparecido até hoje, por isso também pedimos com urgência que a busca de nosso professor por parte da polícia continue até encontrá-lo, sobretudo, pedimos as punições aos autores e mandantes desses crimes cruéis, visto que até no momento continua sem punição, por isso os fazendeiros e envolvidos mandantes impune continuam ameaçando-nos.
Por fim, reivindicamos a conclusão urgente de identificação e demarcação de nossa terra tradicional YPO I, uma vez que nós comunidade aqui na aldeia Pirajuy estamos apenas aguardando a demarcação definitiva de nossa terra tekoha..."
Comissão de Direitos Humanos vista aldeias Guarani
Um Grupo de Trabalho integrado por diversos órgãos ligados aos direitos humanos estarão visitando algumas áreas indígenas e conversando com diversos setores da sociedade regional do Mato Grosso do Sul, a partir de amanhã "Esse Grupo do CDDPH tem como escopo colher informações sobre as denúncias de violações dos direitos humanos de indígenas, mas especificamente optamos por focar na questão fundiária, apostando no bom andamento dos estudos demarcatórios e seu conseqüente processamento como premissa de um grande plano de ação para o não recrudescimento da violência, " informou Juliana, coordenadora do Grupo.
Existe a expectativa dos Kaiowá Guarani de que esse seja um momento importante de fazer chegar ao Presidente da República, ao Ministro da Justiça e outras autoridades a real situação de violência genocida e total impunidade que existe aqui no Mato Grosso do Sul. Querem mais uma vez dizer ao Brasil e ao mundo de que não agüentam ver suas lideranças sendo assassinadas e criminalizadas sem que se tome efetivas providências para interromper esse sofrimento secular. A impunidade não pode continuar campeando
* Assessor do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) Mato Grosso do Sul
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