De Povos Indígenas no Brasil
Notícias
Documentário inicia a competição
26/11/2004
Fonte: O Globo, Segundo Caderno, p. 2
Documentário inicia a competição
Eduardo Souza Lima
Enviado especial Brasília
Com clima ainda morno, bem diferente de anos anteriores, começou na noite de quarta-feira a mostra competitiva do 37 Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Nem todas as cadeiras do Cine Brasília foram ocupadas, o que é uma pena, já que dois dos filmes em disputa pelos Candangos, o curta "Vinil verde", de Kleber Mendonça Filho, e o longa "500 almas", de Joel Pizzini, mereciam casa lotada.
Adaptação de uma fábula russa, "Vinil verde" recria superstições do imaginário infantil - coisas como não deixar o chinelo virado para baixo e o boi da cara preta - usando a linguagem do cinema de terror moderno, notadamente o japonês. O filme é todo feito a partir de fotografias, que ganham movimento na montagem, e é narrado como um velho conto de fadas, só que à moda nordestina - o diretor é pernambucano. Nele, uma mãe dá à filha uma antiga vitrolinha com discos coloridos de histórias infantis. Adverte-a, porém, que jamais ouça o disco verde. A menina é claro, desobedece e coisas terríveis começam a acontecer. Foi o filme mais aplaudido na noite.
"500 almas" não é um documentário convencional
O diretor Joel Pizzini define o seu "500 almas" como um filme etnopoético. O ponto de partida é o movimento para preservar a milenar cultura guató, que vive no Pantanal Mato-grossense. Os guató chegaram a ser declarados extintos nos anos 60, até que a missionária Ada Gambarotto encontrou renanescentes na década seguinte. Em seu discurso de apresentação, Pizzini destacou o fato de Brasília não fazer diferenciação entre filmes de ficção e documentários em sua competição.
- É preciso romper gêneros, bitolas e fronteiras, tratar tudo como filme. Como dizia Glauber, é tudo audiovisual. Este festival é o fórum do cinema independente brasileiro.
E realmente "500 almas" tenta romper fronteiras: está longe de ser um documentário convencional, principalmente em sua primeira metade. Nela, Pizzini aborda o imaginário e a língua guató, que é tonal, inspirada nos sons da natureza, de forma impressionista: sons da natureza se misturam com imagens e vozes. Na segunda parte, o diretor aborda o assassinato de um líder guató em 1982 - crime ainda sem punição - e, a partir dele, discute a destruição da cultura indígena em geral, usando trechos da peça "Controvérsias de Valladolid", de Jean-Claude Carrière, encenada por Paulo José e Matheus Nachtergaele. Embora seja mais didática, menos radical, é a parte menos interessante do filme e até um pouco confusa. Algumas pessoas saíram antes do fim da projeção, mas a grande maioria resistiu até o fim. Quem sabe hipnotizada pela beleza das imagens captadas pelo veterano diretor de fotografia Mario Carneiro - auxiliado pelo também experiente câmera Dib Lutfi - que fez de cada enquadramento uma obra de arte
O curta "Desventuras de um dia ou a vida não é um comercial de margarina", de Adriana Meirelles, é um exercício de técnicas de animação. Hoje, a competição vai exibir o aguardado "Peões", de Eduardo Coutinho - que também está chegando hoje ao circuito - e os curtas "Enjaulados", de Luiz Montes, e "Viva Cassiano!", de Bernardo Bernardes.
Eduardo Souza Lima viajou a convite do Festival de Cinema de Brasília
O Globo, 26/11/2004, Segundo Caderno, p. 2
Eduardo Souza Lima
Enviado especial Brasília
Com clima ainda morno, bem diferente de anos anteriores, começou na noite de quarta-feira a mostra competitiva do 37 Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Nem todas as cadeiras do Cine Brasília foram ocupadas, o que é uma pena, já que dois dos filmes em disputa pelos Candangos, o curta "Vinil verde", de Kleber Mendonça Filho, e o longa "500 almas", de Joel Pizzini, mereciam casa lotada.
Adaptação de uma fábula russa, "Vinil verde" recria superstições do imaginário infantil - coisas como não deixar o chinelo virado para baixo e o boi da cara preta - usando a linguagem do cinema de terror moderno, notadamente o japonês. O filme é todo feito a partir de fotografias, que ganham movimento na montagem, e é narrado como um velho conto de fadas, só que à moda nordestina - o diretor é pernambucano. Nele, uma mãe dá à filha uma antiga vitrolinha com discos coloridos de histórias infantis. Adverte-a, porém, que jamais ouça o disco verde. A menina é claro, desobedece e coisas terríveis começam a acontecer. Foi o filme mais aplaudido na noite.
"500 almas" não é um documentário convencional
O diretor Joel Pizzini define o seu "500 almas" como um filme etnopoético. O ponto de partida é o movimento para preservar a milenar cultura guató, que vive no Pantanal Mato-grossense. Os guató chegaram a ser declarados extintos nos anos 60, até que a missionária Ada Gambarotto encontrou renanescentes na década seguinte. Em seu discurso de apresentação, Pizzini destacou o fato de Brasília não fazer diferenciação entre filmes de ficção e documentários em sua competição.
- É preciso romper gêneros, bitolas e fronteiras, tratar tudo como filme. Como dizia Glauber, é tudo audiovisual. Este festival é o fórum do cinema independente brasileiro.
E realmente "500 almas" tenta romper fronteiras: está longe de ser um documentário convencional, principalmente em sua primeira metade. Nela, Pizzini aborda o imaginário e a língua guató, que é tonal, inspirada nos sons da natureza, de forma impressionista: sons da natureza se misturam com imagens e vozes. Na segunda parte, o diretor aborda o assassinato de um líder guató em 1982 - crime ainda sem punição - e, a partir dele, discute a destruição da cultura indígena em geral, usando trechos da peça "Controvérsias de Valladolid", de Jean-Claude Carrière, encenada por Paulo José e Matheus Nachtergaele. Embora seja mais didática, menos radical, é a parte menos interessante do filme e até um pouco confusa. Algumas pessoas saíram antes do fim da projeção, mas a grande maioria resistiu até o fim. Quem sabe hipnotizada pela beleza das imagens captadas pelo veterano diretor de fotografia Mario Carneiro - auxiliado pelo também experiente câmera Dib Lutfi - que fez de cada enquadramento uma obra de arte
O curta "Desventuras de um dia ou a vida não é um comercial de margarina", de Adriana Meirelles, é um exercício de técnicas de animação. Hoje, a competição vai exibir o aguardado "Peões", de Eduardo Coutinho - que também está chegando hoje ao circuito - e os curtas "Enjaulados", de Luiz Montes, e "Viva Cassiano!", de Bernardo Bernardes.
Eduardo Souza Lima viajou a convite do Festival de Cinema de Brasília
O Globo, 26/11/2004, Segundo Caderno, p. 2
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